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A Acupuntura como Tratamento Auxiliar no Transtorno do Pânico

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Baseado no TCC das alunas Carla Rovesta e Caroline Moraes

INTRODUÇÃO:

A MTC se baseia no princípio de que o homem deve estar em harmonia com as forças da natureza, que os chineses chamam de yin (representa aspectos relacionados ao repouso, esfriamento, escuridão, retração, implosão e descendência) e yang (representa todo aspecto relacionado à atividade, aquecimento, claridade, expansão, explosão e ascendência). São dois princípios opostos e complementares que compõe todo universo, sendo que esse equilíbrio é entendido como saúde.  O equilíbrio do corpo humano é mantido por meio do fluxo suave de energia denominada pelos chineses de QI. Se esse fluxo estiver impedido de movimentar teremos os acidentes ecológicos na natureza e a doença no ser humano.

O Transtorno do Pânico (TP) é uma síndrome social caracterizada pela presença recorrente de ataques de pânico, essas são definidas crises espontâneas, súbitas, de mal-estar, pensamentos repetitivos e sensação de perigo e morte iminente, com múltiplos sintomas e sinais de alerta e hiperatividade autonômica, atingindo seu máximo, por definição, em cerca de dez minutos. O diagnóstico é feito com a presença dos ataques de pânico recorrentes levando ao impacto negativo na vida social do indivíduo. Os ataques de pânico podem vir acompanhados de sintomas físicos cardiológicos, gastrointestinais e autonômicos.

Em um ataque de pânico a pessoa experimenta o início súbito de medo, terror, apreensão, opressão, uma sensação de destruição iminente, caracteristicamente pensa que está morrendo, tendo um ataque cardíaco, enlouquecendo ou perdendo totalmente o controle. As crises de pânico são crises intensas de ansiedade, nas quais ocorre importante descarga do sistema nervoso autônomo. Assim ocorrem sintomas físicos também como: dispneia, palpitação, taquicardia, sudoreses, tremores ou abalos, sensação de falta de ar ou sufoca mento, sensação de asfixia, dor ou desconforto no peito, sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio, sensação de irrealidade, sensação de estar distanciado de si mesmo, anestesia ou sensações de formigamento e calafrios ou ondas de calor. Esses sintomas são recorrentes e inesperados e seguidos por um mês de ansiedade antecipatória persistente ou mudança comportamental. Apesar de várias pessoas já terem passado por alguns desses sintomas, só é fechado o diagnóstico de transtorno do pânico quando os ataques ocorrem com alguma frequência e regularidade. Geralmente ocorre em pacientes que tenha passado por perda, por mudança, por uso de drogas, pós-parto entre outros. A primeira vez que o indivíduo tem algum dos sintomas mencionados ele corre para o pronto atendimento, porém quando feito todos os exames ele é informado de que não tem nada e depois disso ele tem vários outros ataques de pânicos até ser diagnosticado com o transtorno de pânico.   Por ser uma doença social de característica ocidental da vida moderna, a síndrome do pânico não é diagnosticada na medicina tradicional chinesa dessa forma, ou seja, não é nomeada com síndrome ou transtorno de pânico. Pois a medicina chinesa está firmemente ancorada na observação da natureza e na sua constante mudança (MACIOCIA, 1989). Qualquer desacerto, bloqueio, estagnação no fluxo da energia (Qi) é a causa de desarmonias e disfunções. A saúde segundo a MTC ocorre e o sarar também, quando esse fluxo é livre e fácil e permitem um equilíbrio dinâmico entre os dois polos, Yin e Yang. A saúde, por tanto pode ser interpretada como a capacidade do ser humano de responder ou reagir aos desafios impostos pela vida de uma forma equilibrada, mantendo a integridade e coerência. Como na MTC não existe separação entre corpo, mente e espírito, uma desarmonia em um dos cinco principais órgãos do corpo, na perspectiva chinesa: coração, baço-pâncreas, pulmão, rins e fígado, ocasionará automaticamente um desequilíbrio nos aspectos mentais e espirituais desses órgãos chamados: shen, hun, pó, Yi e zhi.

 Dessa forma quando se interpreta segundo a MTC cada sentimento, que juntos ou isoladamente compõem a síndrome do pânico na visão ocidental.  A tristeza, como o pesar, o remorso e o arrependimento danifica o Qi (energia) e o faz desaparecer. Primeiro a tristeza aflige o coração (Xin) e posteriormente o pulmão (Fei), o qual governa o Qi, por isso uma tristeza machucando este órgão leva a uma depleção de Qi, manifestando em depressão cansaço e desânimo. O medo, inclui sentimentos como ansiedade, temor, pavor e pânico, ocasionando numa desordem do Qi, afetando o rim (Shen), ocasionando na descida do Qi, sendo interpretado como incapacidade de controlar os esfíncteres, provocando enurese, incontinência urinária e diarreia que ocorrem em medo excessivo ou pânico. Segundo a Medicina Tradicional Chinesa o Rim armazena a essência (Jing) que é constituída pela essência dos pais, ou seja, é a energia que recebemos na hora em que fomos concebidos (energia ancestral) e a essência pós natal, está é formada a partir da transformação dos alimentos. Um Rim em desarmonia não consegue executar suas funções as quais são, alem de armazenar a essência, controlar a recepção do Qi e ser a base do Yin e do Yang (MACIOCIA, 1994). A raiva, pode ser compreendida como ira ou fúria, e também como magoa, ressentimento, frustração, irritação, indignação e amargura. Esses sentimentos ferem o fígado (Gun), e se persistirem por um longo período, levam a estagnação do Qi nesse órgão, sendo o mesmo responsável pelo livre fluxo do Qi. A raiva faz o Qi ascender atacando a cabeça, essa por sua vez pode ser traduzida como cefaleias, insônia, tensão nos ombros, zumbidos e face avermelhada. Uma raiva não exteriorizada, guardada leva a depressão. Uma alegria excessiva perturba o coração (Xin). Nesse caso representa uma excitação exacerbada, desproporcional, um anseio insaciável, mórbido. Por outro lado, a alegria sadia é um sentimento favorável que, quando presente favorece o funcionamento de todos os Zang/Fu (órgãos e vísceras) e as atividades mentais, protegendo o coração. E por fim, a preocupação, que foi o diagnóstico encontrado na paciente desse presente estudo. O pensar excessivo voltado ao passado ou para vida, ao invés de vivê-la, pensamentos repetidos, persistentes ou excessivos, machucam o baço e o pâncreas (Pi), tendo como consequências disfunções no transporte e transformação dos alimentos, na regulação dos músculos, e a sustentação dos órgãos em seus lugares.

METODOLOGIA:

A abordagem do problema desse estudo se baseia em pesquisa qualitativa e com objetivos exploratórios, que envolvem também uma pesquisa descritiva. Uma pesquisa qualitativa leva em consideração uma dinâmica relação do mundo real e o sujeito, em que a interpretação dos fenômenos ocorre discursivamente sem a necessidade de uso de instrumentos estatísticos.

 No caso do presente estudo, refere-se a analise/diagnostico de uma paciente jovem de 29 anos com transtorno do pânico e do uso da acupuntura como tratamento. A primeira crise foi relatada quando a paciente tinha 8 anos de idade e se repetiu com 29 anos de idade. Ela relatou ter passado por momentos difíceis com uma avó com Alzheimer e depois da morte de sua avó teve o aparecimento da segunda crise de pânico. Os sintomas foram pensamentos repetidos que ela precisava lutar constantemente para não enlouquecer e angustia, tristeza, ansiedade, preocupação, taquicardia, sudorese, falta de ar e medo.

 Mesmo com os medicamentos que tomava ainda assim as crises continuavam, então ela se submeteu a um tratamento através de acupuntura por um período de 3 meses, realizado em sua própria residência pelo menos 2 vezes por semana. O material bibliográfico foi selecionado e feito fichamento, no estudo de caso foram feitas anotações.

O plano de tratamento foi realizado em três meses, iniciando em 20/05/16, sendo constituído dos seguintes pontos:

– BP2: Para agitação e insônia

– BP3: Tonificar YANG do Baço/ Pâncreas

– BP1: Para fortalecer o útero

– C8: Elimina calor do coração, acalma a mente

– IG4: Acalma a mente  

– VG20: Acalma o SHEN

– CS6: Acalma a mente, ansiedade, insônia, palpitação, depressão, tristeza

– VC17: Tira a angustia

– R3: Tonificar o YIN do Rim

– Yintang: Acalmar a mente e dormir

RESULTADOS:

Nas três primeiras semanas observou-se uma melhora significativa em relação à insônia. Paciente relatou que conseguiu dormir durante a noite toda e as ocorrências das crises foram diminuindo, ou seja, aumentou o intervalo entre as crises.  Do dia 17 de junho de 2016 a 1 de julho de 2016, a paciente relatou melhoras em relação a angustia, as sensações de aperto no peito diminuíram e as crises passaram a ocorrer apenas do fim de tarde para a noite. E com isso conseguiu diminuir o uso de escitalopran e suspender o uso alprazolan com acompanhamento médico.

Da semana do dia 08 de julho de 2016 até a semana do dia 29 de julho de 2016, a paciente relatou que as crises cessaram, continua dormindo a noite toda e com isso a medicação foi suspensa. Nas três últimas semanas, a paciente já se aparentava com um semblante calmo, feliz em paz e teve o resultado de gravidez positivo.  O tratamento alcançou seu objetivo nas duas queixas, conseguindo harmonizar e equilibrar o yin e o yang e permitindo o livre fluxo do Qi. Tonificando o YIN do Baço e acalmando o SHEN. Com isso, a acupuntura pode contribuir muito para a melhora da saúde do paciente e proporcionar uma qualidade de vida ótima em seu cotidiano, sem medicamentos e sem as crises de pânico, conforme se constatou no estudo de caso aqui abordado.

CONCLUSÃO:

 Através desse estudo, foi possível constatar que a Medicina Tradicional Chinesa, trabalha o corpo como um todo, melhorando não somente a queixa principal do paciente, mas sim melhorando por inteiro todo o organismo e mente. A eficácia da acupuntura foi estudada por vários autores, cuja maioria constatou seus benefícios para uma série de doenças psicossomáticas.  Desse modo, o presente trabalho alcançou ao seu objetivo principal que se deu em estudar os principais benefícios do uso da acupuntura no tratamento de pacientes do sexo feminino de 29 anos com síndrome do pânico. Estudos confirmaram os benefícios do tratamento com a acupuntura, como o alívio da crise do pânico, redução de doenças psicossomáticas, melhora da qualidade de vida dentre outros benefícios.  Esta pesquisa, porém, teve suas limitações, como tomando por base o estudo de um paciente apenas, e assim, podem ser melhor acentuadas suas conclusões ampliando a observação de um número maior de pacientes.  Por meio dessa pesquisa estima-se contribuir para estudos da mesma abordagem, oferecendo maior respaldo acerca da eficácia do tratamento para doenças psicossomáticas como síndrome do pânico através da acupuntura. Como continuidade deste estudo, sugere-se a abordagem do uso das técnicas da acupuntura para o tratamento de outras doenças psicossomáticas.

Autora do Artigo: Profa. Ma. Luciana Mendes Vinagre

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