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Tratamento sintomático das algias e crises alérgicas agudas, em uma paciente com diagnóstico de Lúpus Eritematoso Sistêmico, utilizando pontos de acupuntura Shu Antigos

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ARTIGO ESCRITO POR CARLA CEPPO, BASEADO NO TCC DAS ALUNAS: DANIELLA MANCIN CONTATTO e MÉRCIA NEREIDA AYRES

 O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), embora esteja classificada como uma doença hematológica, consiste em uma enfermidade autoimune inflamatória crônica que pode afetar múltiplos sistemas do organismo, provocando várias manifestações clínicas polimórficas como febre, anorexia, mal-estar e perda de cabelo, emagrecimento, artrite, pleurite, pericardite, nefrite, anemia, leucopenia, trombocitopenia e doença do sistema nervoso central, com períodos de remissões e exacerbações agudas ou crônicas.

 Segundo a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) as doenças hematológicas são fruto da diminuição da “energia de defesa” chamada de Wei Qi e do ataque sucessivo de patógenos externos chamados de vento-frio, vento-calor e vento umidade que pouco a pouco vão se instalando nas articulações. A MTC entende que a maioria dos distúrbios autoimunes tem em sua origem a desarmonia entre a energia dos diversos órgãos do corpo, com especial destaque para a energia do Rim (Jing, Yin e Yang). A LES é uma síndrome energética que afeta todos os órgãos e vísceras (Zang/Fu). Por ser uma síndrome complexa, que afeta todos os órgãos, afeta também o equilíbrio homeostático da mandala dos cinco elementos e pode ser tratada por uma única técnica que trata vários órgãos ao mesmo tempo. A escolha dos pontos da técnica dos Shu Antigos, apresenta-se como excelente e completa nesta síndrome (LES), pois trata vários órgãos ao mesmo tempo, podendo ser usada em muitas sessões, com segurança e efetividade.

Este estudo de caso teve por objetivo, verificar a atuação da acupuntura em paciente com Lúpus Eritematoso Sistêmico, avaliando os aspectos clínicos que envolvem os múltiplos sistemas do corpo à medicina ocidental e segundo a MTC; executar o tratamento dirigido ao espaçamento das crises e uma melhoria na qualidade de vida da paciente, à minimização das incapacidades relacionadas devido às algias e crises alérgicas, aliando-se ao tratamento alopático. Foram realizadas duas sessões semanais de quarenta minutos de duração cada uma, perfazendo um total de 10 sessões, sendo utilizadas agulhas de acupuntura esterilizadas e descartáveis, 25×30. Os pontos escolhidos, foram R7/P8/R3/BP3, Ciclo de Geração. Tonificar a mãe, (Elemento metal), para tonificar o filho (Elemento Água), sendo os órgãos envolvidos, os Rins (Shén), o Fígado (Gan), o Pulmão (Fei), e indiretamente o Coração (Xin) e o Baço/Pâncreas (Pi), além das substâncias corpóreas, Qi (Energia), Xue (Sangue), Shen (mente), Jin Ye (Líquidos corpóreos) e Jing (Essência ancestral e adquirida). 

Anamnese: Mulher, 27 anos, casada, dois filhos, trabalha como vendedora de catálogos e ajuda o esposo, com serviços de banco e empacotamento de produtos. Procurou atendimento com os seguintes sintomas:

Relata que a depressão teve início há um ano, após a morte do pai, por complicações de Lúpus. Prefere o calor, porém tem sede de bebidas frias, sua urina é escura e escassa. Pulso profundo forte e rápido, língua rósea, com leve saburra na raiz, com marcas dentadas nas laterais e pontos vermelhos. Ponta da língua vermelha.

Diagnosticada na medicina ocidental como sendo portadora de Lúpus Eritematoso Sistêmico, usando os seguintes medicamentos: Prednisolona 40mg; Cloridrato de Hidroxizina 20 mg; Levocetirizina 10 mg diariamente, além de antiinflamatórios.

 Após a anamnese (interrogatório), a paciente foi questionada sobre a intensidade dos sintomas, dores e incômodos digestivos, e qual nota daria para cada um em numerais, de 01 a 10. Na primeira consulta, referiu nota 10 (dez) de intensidade a todos os sintomas. Foi orientada que, a partir da primeira sessão, seria questionada novamente, sobre a nota que daria a cada sintoma, sessão após sessão, para que pudesse ser verificada a eficácia do tratamento, a evolução da patologia, e se a técnica Shu Antigos é a mais eficaz para o tratamento da patologia Lúpus Eritematoso Sistêmico, apresentada pela paciente.

Na MTC os sintomas remetem a uma síndrome energética de deficiência Yin do Rim, como raiz (deficiência do elemento água), aumento do Yang do fígado (elemento madeira), causando excesso de calor no coração (elemento fogo). O elemento água deficiente, não tem forças para diminuir o Yang do fígado e o fogo do coração, consequentemente, levando a uma deficiência de baço (elemento terra), e do pulmão (elemento metal), que sendo derretido pelo fogo do coração, fica impedindo de produzir água, dificultando ainda mais a recuperação do elemento água.

Pelo diagnóstico energético da paciente, ficou claro que a deficiência Yin do Rim é a raiz que desencadeou os inúmeros sintomas da enfermidade, bem como afetou vários órgãos, causando o desequilíbrio homeostático.

As consequências do desequilíbrio, geram os sintomas apresentados pela paciente: algias generalizadas, uma vez que o Fígado lesado não consegue nutrir os tendões, erupções cutâneas, que o Pulmão em excesso de calor, manifesta na pele, insônia, depressão, ansiedade, estresse, baixa autoestima, entre outros sintomas emocionais, devido ao fogo do coração, que não consegue acomodar o Shen (mente).

Ao tonificar o elemento mãe (Pulmão), o elemento filho (Rim) é tonificado, e ao sedar o elemento avô (Baço/Pâncreas), o elemento neto é tonificado (Rim). Sedando o elemento terra (Baço/Pâncreas), o elemento fogo é sedado (Coração), pois quando sedamos o filho, a mãe é sedada. O elemento fogo sendo sedado, deixa de derreter o elemento metal (Pulmão), restaurando o equilíbrio da mandala dos cinco elementos.

No caso da paciente deste estudo, dentro da teoria dos Zang Fu, ela teria deficiência do Yin do Rim, gerando aumento do Yang (calor). Este aumento do Yang do Rim, gera aumento do Yang do Fígado, gerando mais calor, aumentando o fogo, o que pode gerar deficiência de Yin do coração. Deficiência do Yin do Rim → aumento do Yang do Rim → Yang do Fígado → Escape do Yang do Fígado → Deficiência do Yin do coração → Perda do controle do Fogo → Fogo derretendo Metal, impedindo que o metal produza água, desordenando todos os órgãos. Foram usados os pontos do ciclo de geração: P8/R7/R3/BP3. 

A paciente em questão é um exemplo de que o tratamento é processual e não final, pois apesar do relato de melhora de todos os sintomas, não houve alteração na língua e no pulso. A mesma foi orientada sobre hábitos alimentares, necessidade de fazer atividades físicas e trabalhar as emoções, que a princípio houve certa resistência, mas com a continuidade do tratamento e a melhora significativa geral nas primeiras sessões, entendeu que parte do tratamento dependia de sua mudança de atitude e participação efetiva.

Após 5 sessões, a melhora da paciente é visível, sendo que as erupções cutâneas (vergões) e o rubor malar quase desapareceram, as dores diminuíram substancialmente e os problemas digestivos se atenuaram.

Após 10 sessões, além dos sintomas desaparecerem quase por completo (dores, edemas, erupções cutâneas e rubor malar e constipação), ela reduziu a dosagem do medicamento Prednisona de 40 mg diários, para apenas 5 mg diários. Os demais antiestamínicos e os antiinflamatórios foram completamente retirados.

As dores articulares cessaram, os surtos de alergia diminuíram consideravelmente sendo relatados pela paciente como quase extintos, o rubor malar sumiu, e os intestinos estão regulados. Relata estar se sentindo muito bem, com disposição para desempenhar suas atividades cotidianas de mãe, esposa, e profissional. A ansiedade e o nervosismo estão controlados, e não referiu estar sentindo o medo, que relatara na anamnese.

A paciente continuou o tratamento por mais 10 sessões, e relatou que apesar de ter retirado por conta própria a medicação que ainda tomava, sente-se muito bem, sem medo nem ansiedade.

Para atingir o objetivo deste estudo, a técnica deveria apresentar uma resposta positiva de espaçamento ou extinção dos sintomas, proporcionar à paciente, uma melhora geral física e emocional, e de qualidade de vida; e propor uma diminuição gradual das medicações alopáticas que a princípio causavam efeitos colaterais indesejados, como edemas e dores estomacais; tudo sob a supervisão de seu médico. 

As sessões ocorreram duas vezes por semana, durante 10 sessões, ininterruptamente. Na quinta sessão, a paciente relata que a intensidade dos sintomas diminuiu significativamente. A partir da 7ª sessão, relatou estar se exercitando 3 vezes por semana, moderadamente, ingerindo pelo menos 1 litro e meio de água por dia; introduziu alimentos mais saudáveis em sua dieta, decidindo continuar o tratamento por mais dez sessões, para manutenção e controle. 

Após a 10ª sessão, seu médico diminui a dosagem de Prednisona para 5 mg ao dia, e não receitou outros antiinflamatórios ou anti-histamínicos.

A paciente refere estar se sentindo bem em todos os sentidos, acredita que pode levar uma vida normal, apesar de ter sido informada pelos médicos alopatas, que não há cura para a patologia LES. Recuperou a autoconfiança e autoestima.

A doença autoimune LES, é considerada pela medicina ocidental incurável, podendo apenas ser controlada por medicamentos. Estes medicamentos, ao longo do tempo, podem provocar sérias complicações, uma vez que seu uso prolongado pode desencadear outras enfermidades e prejudicar órgãos essenciais, como o estômago, fígado, vesícula, pâncreas, entre outros. Já na Medicina Tradicional Chinesa, a doença autoimune é considerada um desequilíbrio energético, podendo ser tratada por diversas técnicas de acupuntura, auriculoterapia, exercícios físicos, fitoterapia, hábitos alimentares saudáveis, etc.

Concluiu-se que os Pontos Shu Antigos são eficientes no tratamento da sintomatologia do LES, e desequilíbrios energéticos. Pesquisas futuras podem e devem ser feitas, não somente para LES, mas para todas as demais doenças autoimunes e desequilíbrios energéticos.

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