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Relato de Caso: Uso da Acupuntura na Recuperação da Paralisia Facial em uma Unidade Básica de Saúde

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ANA PAULA BATISTA RAMOS

Artigo elaborado baseado em partes do Trabalho de Conclusão de Curso. Autora do artigo: Profa. Larissa A. Bachir Polloni – CETN

A paralisia facial periférica (PFP) é uma morbidade neuromotora que envolve o nervo facial, de forma temporária ou definitiva. A sua incidência é maior aos 40 anos de idade, porém pode afetar pessoas de qualquer faixa etária, variando da terceira à oitava década de vida, sendo rara antes dos 10 anos de idade. A prevalência da paralisia de Bell é maior no gênero feminino e alguns autores acreditam que a maior frequência entre as mulheres se deva a gestação ser um fator de risco da paralisia e pelo fato de possuírem maior expectativa de vida, quando comparado aos homens. Vale ainda considerar, que além da gestação, diabetes mellitus e hipertensão arterial sistêmica também são considerados fatores de risco. (PARAGUASSÚ, GM; SOUSA, JAC; FERRAZ, EG, 2011).

Mesmo sendo uma patologia antiga, e possuindo inúmeras etiologias, ainda é pouco conhecida. Quando ocorre, gera problemas muito sérios devido a mutilação dos movimentos expressivos da face, causando inclusive sérios problemas psicológicos. Ocorre também o comprometimento das funções fisiológicas, tais como, o lacrimejamento, o reflexo do músculo do estribo, a sensibilidade gustativa dos dois terços anteriores da língua, a salivação, os movimentos voluntários e a modificação do tônus da boca, gerando problemas no processo alimentar. (CAROPRESO, 2016)

A etiologia da paralisia facial periférica (PFP) é variável e inclui causas neoplásicas e metabólicas, afecções inflamatórias da orelha media, herpes zoster, mas as mais comuns são de ordem idiopática ou de Bell, seguida da traumática.

Desde que descreveu pela primeira vez em 1830, tem-se falado em diversas teorias para explicar a etiopatogenia da PFP de Bell; as mais recentes incluem a hipótese da isquemia vascular, imunológica e de compressão e nos últimos anos tem surgido a hipótese virótica (por herpes simples), com diversas investigações que a apoiam. (ROSA et al. , 2010). A Paralisia facial idiopática (Bell) é a causa mais comum, com incidência de 20 casos para cada 100.000 habitantes (EUA), representando 55% a 80% dos casos de PFP. Acomete todas as faixas etárias, sendo mais frequente em mulheres, terceiro trimestre de gestação, homens acima de 40 anos e em indivíduos diabéticos. (DIB; KOSUGI; ANTUNES, 2004).

A fisiopatologia da paralisia de Bell ainda não está totalmente esclarecida, entretanto, tem sido demonstrada associação com infecçãoo pelo citomegalovírus, envolvimento autoimune e congênito também tem sido considerado, entretando a maioria dos casos ainda é considerado como idiopático. (PARAGUASSÚ, GM; SOUSA, JAC; FERRAZ, EG, 2011).

NA PFP ocorre paralisia parcial ou completa dos músculos da hemiface afetada, estando a musculatura desviada para o lado contralateral; pode ocorrer concomitantemente, de acordo com a localização e grau da lesão, hipersensibilidade auditiva, incapacidade de fechar os olhos, redução do reflexo de piscar e redução do paladar, assim como distúrbios da salivação e do lacrimejamento, dormência ao redor da orelha (BARROS, HC; BARROS, ALS; NASCIMENTO, MPR; 2012).

O nervo facial é o que mais sofre paralisia no corpo humano, devido ao seu longo percurso que passa através de um canal estreito, aqueduto de Falópio, e apresenta varias mudanças de direção, desde o tronco cerebral até a periferia. (ROMAO; CABRAL, MAGNI, 2015).

O grau da recuperação do nervo facial depende da idade, do tipo da lesão, da etiologia, da nutrição do nervo, do comprometimento neuromuscular e da terapêutica instituída. Essa recuperação pode levar desde algumas semanas até quatro anos. (BARROS, 2016; GARANHANI et al. 2007).

A MTC atribui a ocorrência da paralisia facial à exposição ao vento frio que invade os meridianos que atravessam o rosto e interrompem o fluxo de Qi e sangue, impedindo os vasos e os músculos de receber o suprimento necessário. O tratamento é direcionado para dispersar o Qi através dos meridianos da face.

Relato de caso:

Paciente K.R.M.S,  sexo feminino, 27 anos, casada, 3 filhos, repositora, desempregada. Teve paralisia facial no oitavo mês de gestação, sendo diagnosticada durante a consulta de pre-natal realizada na Unidade Básica de Saúde (UBS) em março de 2015. Teve parto normal sem intercorrências em 26/04/15.

Em 02/07/15, após 4 meses da PFP, a paciente foi avaliada pela autora deste artigo, sendo oferecido o tratamento de Acupuntura.

 A paciente encontrava-se em período de puerpério remote, nutriz, em amenorréia, apresentava desvio de rima à esquerda, ptose palpebral à direita com lacrimejamento significativo, dificuldade de mastigação e deglutição, sialorréia e crises de choro constante; bebe estava com 2 meses e 6 dias.

Queixa secundária: algia abdominal frequente, de intensidade leve a moderada, sem horário especifico com piora à palpação, cefaleia em região occipital constante desde 2006. Refere pontada no tórax e perda de sono fácil quando fica nervosa.

Medicação: Nega medicações de uso contínuo.

Diagnostico na Medicina Tradicional Chinesa:

–          Invasão de vento do Fígado, ascensão do Yang do Fígado, estagnação do Qi do Fígado, qi do Baço deficiente, distúrbio do shen.

Proposta terapêutica: Acalmar o shen, mover o qi estagnado, tonificar Yin do fígado, mover qi do fígado, mover vento do fígado.

Tratamento inicial:  VC24, VG16, VG26, F3, Yin Tang e Auriculoterapia Chinesa (SNV, Rim, Shen Men, Fígado, Baço, Coração, Pulmão, Ponto da cefaleia, subcortex).

As sessões eram realizadas semanalmente, repetindo os pontos de acupuntura e auriculoterapia conforme a resposta terapêutica da paciente. Inicialmente foi preconizado 10 sessões para o tratamento da paralisia facial com a acupuntura, sendo expandido conforme a necessidade e resposta terapêutica.

Foi aplicado questionário com dados sobre a anamnese da paciente para o levantamento do diagnostico na medicina chinesa e determinação dos acupontos a serem utilizados no tratamento. O registro das informações, assim como toda sua evolução clínica foram registrados no prontuário de saúde da paciente na UBS da qual a mesma é usuária, sendo o mesmo local do tratamento.

Foi assinado pela paciente o termo de consentimento livre esclarecido.

RESULTADOS:

–          Em 17/05/15: após 2 sessões, apresentou melhora do desvio de rima, os olhos não apresentavam mais lacrimejamento, não apresentava mais sialorreia. Refere estar dormindo melhor e mais calma.

–          Em 05/08/15: melhora da paralisia facial – grande melhora da ptose e do desvio de rima, não tem apresentado crises de choro fácil.

–          Em 13/08/15: continua melhora, porem continua com cefaleia – acrescentado ponto VG20.

–          27/08/15: nas duas últimas sessões melhorou alimentação, não precisando de auxilio de canudo, acrescentado ponto Yin Tang

–          17/09/15: mantendo os pontos – mantendo boa evolução.

–          01/10/15: acrescentado ponto VC17, devido a ansiedade.

–          06/11/15: olho direito volta a lacrimejar, acrescentado pontos : F3, IG4, VC7, VC24, VG16, VG20, VG26, BP6, E2, E3, E4 e CS5.

–          12/11/15: lacrimejamento apresentou melhora.

–          27/11/15: apresenta melhora da PFP, melhora da ptose, não necessita usar pomada oftálmica, palpebral com movimentos preservados, não apresenta sialorréia, mastigação e deglutição preservada, discreto desvio de rima à esquerda, melhora do estado emocional. Paciente de alta do tratamento.

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