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ACUPUNTURA CONSTITUCIONAL: prevenindo a Artrite Reumatoide

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Anne Caroline Zaccarias

Artigo elaborado baseado em partes do Trabalho de Conclusão de Curso, Autora do artigo: Profa. Larissa A. Bachir – CETN

A palavra Reumatismo foi um termo criado por um médico grego, que viveu entre os anos 130 e 200 d.C, chamado Galeno. A definição da palavra já sofreu tantas mutações que, nos dias atuais ela não corresponde àquela criada pelo medico (FILHO, 1978). Embora exista mais de 100 tipos de doenças reumáticas (YASUDA, 2005), este trabalho se propõe a estudar a Artrite reumatoide, que é um dos subtipos mais comuns do reumatismo. Segundo FILHO (1978) é difícil encontrar uma definição única que satisfaça todas as suas manifestações, pois algumas destas são muito raras, outras, porém, muito conhecidas.

A artrite reumatoide (AR) é uma patologia que atinge cerca 0,5% e 1% da população mundial adulta. Sendo, porém, considerados apenas indivíduos entre 55 e 75 anos de idade, o percentual aumenta para 4,5%. (ARTRITE REUMATÓIDE, 2015).

Conforme a Medicina Tradicional Chinesa a AR se enquadra como Síndrome da Obstrução Dolorosa Óssea, também conhecida como Síndrome Bi Óssea, que ocorre através da invasão de Xie Qi – vento, frio, umidade ou calor. Este trabalho tem o objetivo de mapear o(os) biotipo(os) que tendem a desenvolver a AR, utilizando a técnica da Acupuntura Constitucional dos Cinco Elementos, onde serão avaliados 10 pacientes diagnosticados com AR.

A Acupuntura Constitucional dos Cinco Elementos é uma técnica que através de avaliação física e de personalidade, descobre-se o “órgão de choque etiopatogênico”, que desencadeia o desequilíbrio do Qi no organismo humano. Este desequilíbrio energético acarreta disfunção energética no Zang Fu, desenvolvendo patologias diversas, entre elas a AR (LEE, 2002; HICKS, HICKS E MOLE, 2007).

ACUPUNTURA CONSTITUCIONAL DOS CINCO ELEMENTOS E SEUS BIÓTIPOS: A medicina chinesa tem a ideia de que toda a natureza é governada pelo Yin/Yang e pelos cinco elementos – Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água. Segundo os chineses não há nada no mundo que não esteja relacionado a esta ideia e nela se inclui o Homem. (HICKS, HICKS e MOLE, 2007) Tendo cada um destes elementos a sua particularidade de constituição, Shu Ching as descreve desta forma:

Água é a qualidade da natureza que descrevemos como saturada e descendente.
Fogo é a qualidade que descrevemos com ardente e com a tendência a ascender.
Madeira é a qualidade que permite superfícies curvas ou margens retas. Metal é a
qualidade que consegue seguir a forma de um molde, e então, se torna dura. Terra é
a qualidade que permite o plantio, o crescimento e a colheita. (Shu Ching, século IV
a.C. apud HICKS, HICKS e MOLE, 2007.)

Ao longo da História, houve vários modelos acerca da teoria dos cinco elementos. A Acupuntura Constitucional, porém, utiliza-se do modelo estabelecido no Nei Jing e no Nan Jing, que considera os cinco elementos com um ciclo criativo. (HICKS, HICKS e MOLE, 2007).

O ser humano, após atingir o ápice do vigor físico e a plenitude da função intelectual, tende a iniciar a fase descendente de sua trajetória. Desta forma, algum órgão deixará de exercer corretamente o seu papel na sensível tarefa de manutenção do equilíbrio homeostático. Caso este desequilíbrio seja discreto, ocorrerá uma doença. Sendo, porém, mais profundo, poderá haver sofrimentos de mais órgãos acarretando uma possível falência de todo o sistema, resultando em morte. (LEE, 2002). Segundo a Teoria Constitucional o ser humano é portador nato de um desequilíbrio energético, que determinará os “órgãos de choque” (LEE, 2002) ou “ressonâncias” (HICKS, HICKS e MOLE, 2007), isto é, os órgãos que tem a maior propensão a iniciar um processo de adoecimento. Tratar de forma precoce o desequilíbrio deste órgão é o objetivo do método constitucional. (LEE, 2002)

Este desequilíbrio do Qi é diagnosticado pelo terapeuta através de características do paciente como o odor, o tom de voz, a cor da pele do rosto, ou seja, na expressão externa do seu lado interno. Isso não significa que o Qi em desequilíbrio faça as características ocorrerem, mas sim que estas características ressoem com a condição do Qi do Elemento em questão. (HICKS, HICKS e MOLE, 2007; Lee, 2002).

Ling Shu acredita que a ressonância do Qi é tão abrangente que une o Qi do céu e da terra influenciando em todas as manifestações anatômicas, fisiológicas e de personalidade do ser humano.

No entanto, segundo LEE (2002), através da técnica da Acupuntura Constitucional, independente da sintomatologia complexa de determinadas doenças, quando se equilibra o órgão de choque etiopatogênico de cada biotipo, restaura-se a homeostase funcional dos órgãos internos. (LEE, 2002). A descoberta de que cada pessoa possui um desequilíbrio constitucional é antiga e muito bem difundida na cultura chinesa. Ling Shu, apud HICKS, HICKS e MOLE, 2007, relata que este dedicou-se à exploração dos aspectos físicos e de caráter da pessoa, para decifrar quatro biotipos constitucionais: TaiYin, ShaoYin, TaiYang e ShaoYang. Diante destes estudos, outros ocorreram com diversos estudiosos, chegando a outros biótipos, os quais não estudaremos neste trabalho.

O conceito mais conhecido na Acupuntura Constitucional dos cinco elementos é o de Fator Constitucional. “É o principal foco do diagnóstico do acupunturista e grande parte do tratamento do paciente é centrada neste aspecto. Pelo fato de ser o desequilíbrio básico do paciente, cria grande parte do desequilíbrio que pode ser detectado nos outros Elementos.” (HICKS, HICKS e MOLE, 2007, p.19) A definição da palavra Constitucional, revela uma abrangência entre as caraterísticas físicas e psicológicas de uma pessoa. (HICKS, HICKS e MOLE, 2007).

OS BIÓTIPOS ESTUDADOS, FISIOPATOLOGIA E SINTOMATOLOGIA
TIPO I – TAI-YANG

A constituição do biotipo I consiste em Elemento Metal em excesso e Elemento Madeira em deficiência, ou seja, energia em excesso nos Pulmões e em deficiência no Fígado. Fisicamente é caracterizado por tórax desenvolvido, ombros largos e cintura proporcionalmente fina. (ARAÚJO e MARQUES, 2009) Considerando que o Elemento Madeira (Fígado e a Vesícula Biliar) governa o sistema muscular e o tecido conjuntivo, a pessoa deste biotipo apresentará fraca sustentação da coluna vertebral e das pernas, gerando distúrbios funcionais destes órgãos com discinesias biliares e hipofunção hepática, onde a intolerância hepática a medicamentos, alimentos gordurosos, proteínas vegetal e animal, álcool, fumo e outras drogas, é perceptível. (INSTITUTO SHEN, 2015)

Subdivisões:
Hipo-Energia da Madeira
Hiper-Energia do Metal

TIPO II – SHAO-YANG

A constituição do biotipo II consiste em Elemento Água deficiente e Elemento Fogo (Coração e Estômago) em excess (LEE, 2002). Fisicamente é caracterizado por quadric estreitos e cintura fraca, assim como a coluna, pernas, panturrilhas e tornozelos. O tronco é curto e pernas proporcionais. Tem brilho nos olhos, pele clara e seca, voz aguda e clara e transpira pouco nos dias de Calor. (ARAÚJO e MARQUES, 2009). Considerando a baixa função renal, os órgãos geniturinários serão pouco desenvolvidos levando a cálculos renais, infecções urinárias, cistites, nefrites, insuficiência renal e doenças ósseas como artrites, reumatismos e osteoporose (INSTITUTO SHEN, 2015). Como a energia da água é alimento para os ossos, a baixa energia renal pode acarretar em esqueleto fraco, que predispões a osteoporoses, artroses e distrofias. A água governa o sistema nervoso, predispondo este biotipo a nevralgias e neuropatias. O equilíbrio das emoções também é responsabilidade da energia dos Rins, então a sua deficiência pode gerar ansiedades, tensão nervosa e inquietude. A relação entre a deficiência do rim e o excesso de fogo no Coração, pode resultar em palpitador precordial, taquicardia, arritmia cardíaca e até espasmo coronário. O Estômago em estado congestivo de Calor predispõe a gastrite, úlceras pépticas, refluxo esofágico por hérnia de hiato.

Subdivisões:
Hipo-Energia da Água dos Rins
Hiper-Energia do Fogo do Coração
Hiper-Energia da Terra do Estômago
Hipo-Energia dos Rins não suprime Hiper-Energia do Coração
Hipo-Energia dos Rins e Hiper-Energia do Coração causando Hipo-Energia do Pulmão

TIPO III – TAI-YIN: Tem desequilíbrio energético contrário ao tipo I, sendo aqui caracterizado pelo Excesso de Energia do Fígado e deficiência na energia do Pulmão. Esta condição leva o Fígado a uma hiperfunção e certa hiperplasia, mostrando um abdome mais pronunciado e sem cintura. E a condição do Pulmão revela um Pulmão pouco desenvolvido com caixa torácica pouco proeminente e ombros estreitos. (INSTITUTO SHEN, 2015) O Excesso de Energia do Fígado causa congestão energética no Fígado e Vesícula Biliar, e embora a tolerância seja boa, a condição energética leva a esteatose Hepática, estase biliar, cirrose hepática, hepatite, cálculo biliar, colecistopatia etc. Com a supressão do Estômago e Baço-Pâncreas através deste excesso de energia da Madeira, o tipo 3 pode apresentar azias, arrotos e sintomas dispépticos em geral, além de gastrites, úlceras pépticas e duodenite. Em geral tem boa função digestiva, sem dificuldades na digestão de alimentos gordurosos, doces, proteicos ou alcoólicos, porém, os abusos alimentares podem fazê-lo adoecer. (LEE, 2002) O excesso da madeira no Fígado gera uma boa energia muscular e tendinosa, com articulações fortes e bem desenvolvidas, porém o abuso desta energia pode acarretar em doenças mioarticulares com AR, miofibrosite no dorso do tronco, hipertonias musculares e contraturas tensionais.
Subdivisões:
Hiper-Energia da Madeira do Fígado
Hipo-Energia do Metal do Pulmão
Hiper-Energia do Fígado suprime Hipo-Energia do Baço-Pâncreas e Estômago
Hiper Energia do Fígado e do Circulação-Sexo (Mestre do Coração) agrava Hipo-Energia do Pulmão

TIPO IV – SHAO-YIN

A constituição do biotipo IV consiste em Rins com Excesso de Fogo e Deficiência de Coração e Estômago, caracterizando-se como tipo contrário ao Tipo II. Sua morfologia é equilibrada, com físico sadio e estrutura mediana, com pés e mãos pequenos, pele fina e macia com pouca transpiração. A Hiper-Energia dos Rins inclina este biotipo a processos inflamatórios nos órgãos geniturinários, com corrimentos e cistites por acúmulo de Umidade. São predispostos ainda a nefrites, pielonefrites, abcessos renais e insuficiência renal ao final da vida. Com o coração em deficiência o Fogo tende a gerar sintomas neurastênicos, ansiedade, medo, palpitações, cardiopatias nervosas e pressão baixa. Já o Estômago deficient de Fogo gera a disfunção digestiva e sendo associado a falta do Elemento Terra, a função digestiva será insuficiente para queimar os alimentos pesados e concentrados. Quando há abuso alimentar poderá haver atonia gástrica, gastrite atrófica e gastroptose, principalmente com alimentos Frios, e melhorando com alimentos quentes. Por estas condições o Tipo IV é predisposto ao câncer no estômago. A deficiência do Baço Pâncreas e do Estômago gera o aumento de muco e Umidade, que está associada a uma congestão energética do Pulmão e Rins, causando inflamação respiratória, tosse produtiva, rinite, bronquite, secreção de catarro abundante, vômitos de muco e catarro, provocados pela tosse asmática incessante. As pessoas deste biotipo estão sempre em contato com seus próprios sentimentos, afinados com as nuances que muitos não percebem. Possuem caráter persistente, organizado, responsável, perfeccionista, ciumento e vingativo. O Reino da emoção e das respostas do sentimento é representado pelo Elemento Água, levando a emoções compulsivas e medos extremos. Tem aceitação limítrofe e amor pela criação artística. (LEE, 2002)

Hiper-Energia da água dos Rins
Hipo-Energia do Fogo do Coração
Hipo-Energa da Terra do Baço-Pâncreas e do Estomago
Hiper-Energia dos Rins suprime excessivamente Hipo-Energia do Coração
Hipo-Energia do Baço-Pâncreas não consegue suprimir Hiper-Energia dos Rins causando Hipo-Energia no Coração
Hiper-Energia dos Rins e Hipo-Energia do Coração causam Hiper-Energia no Pulmão

METODOLOGIA: Foram selecionadas 8 pessoas que apresentavam diagnóstico de Artrite Reumatoide (CID 10 – M053, M059, M060, M069, M080), envolvendo quaisquer articulações do corpo e em qualquer estágio que ela se apresenta, a partir de 30 anos de idade, de ambos os sexos. Estes pacientes foram submetidos ao teste de Força Muscular, utilizando como instrumento de medição um Dinamômetro e os alimentos:

a. Acelga, que tem como propriedade, aumentar a força muscular dos Biotipos 1 e 2 e diminuir a força muscular dos biótipos 3 e 4;
b. Nabo, tem como propriedade diminuir a força muscular do Biotipo 1 e aumentar a força muscular dos Biotipos 2, 3 e 4;
c. Cebola, tem como propriedade aumentar a força muscular dos Biotipos 1, 3 e 4 e diminuir a força muscular do Biotipo 2;
d. Cenoura, tem como propriedade aumentar a força muscular do Biotipo 3 e diminuir a força muscular dos Biotipos 1, 2 e 4;
e. Pepino, tem a propriedade de aumentar a força muscular dos Biotipos 1, 2 e 3 e diminuir a força muscular do Biotipo 4.

O procedimento para a realização do teste de força muscular foi obtido da seguinte forma: inicialmente o paciente foi informado do título e objetivos deste trabalho, explicando de forma resumida, porém, esclarecedora. Com o paciente sentado confortavelmente, em uso de suas roupas habituais e em sua residência, foi avaliada a força muscular de flexão do polegar do membro superior direito (MSD) com o uso do dinamômetro. Este resultado foi anotado. A força muscular foi avaliada novamente com o procedimento anterior, porém, segurando na mão esquerda o alimento a. (Acelga), onde é possível avaliar se a pessoa pertence ao biotipo 1 ou 2 ou, então, ao biotipo 3 ou 4. O resultado foi anotado novamente. O procedimento foi realizado pela terceira vez, porém, dependendo do resultado anterior é que foi definido o alimento a ser utilizado para a definição do biotipo. O procedimento complete foi realizado também medindo a força muscular da flexão do polegar do membro superior esquerdo (MSE), para se obter um segundo resultado, proveniente de pessoas com biotipo híbrido, ou o mesmo resultado em caso de pessoas com biotipo puro.

RESULTADOS
A 62 anos Feminino 4 3
B 86 anos Feminino 3 2
C 55 anos Feminino 1 4
D 33 anos Feminino 3 3
E 71 anos Feminino 1 2
F 61 anos Feminino 1 2
G 68 anos Feminino 3 2
H 94 anos Masculino 1 4
I 57 anos Feminino 1 2
J 59 anos Feminino 2 2

Para a realização deste estudo e busca por prevalência de AR dentre os biotipos da Acupuntura Constitucional, encontramos os seguintes resultados:

50% pertence ao biotipo I. Sendo 40% hibrido com o biotipo IV e 60% hibrido com o biotipo II;
60% pertence ao biotipo II. Sendo 50% hibrido com o biotipo I, 33,3% hibrido com o biotipo III e 16,7 biotipo puro;
40% pertence ao biotipo III. Sendo 50% híbrido com o biotipo II, 25% hibrido com o biotipo IV e 25% puro;
30% pertence ao biotipo IV. Sendo 66,6% hibrido com o biotipo I e 33,4% hibrido com o biotipo III.

DISCUSSÃO
Trazida para o Brasil por Eu Von LEE, médico chinês, a Acupuntura Constitucional tem sua origem muitos anos antes de Cristo, onde muito já se estudava e buscava conhecimento acerca de uma tipologia constitucional. (LEE, 2002) Como dizia Hipócrates, “Não há doença, mas sim doente.”, LEE (2002) se propôs, então, a tratar os doentes e não as doenças, através do equilíbrio do órgão de choque etiopatogênico de cada biotipo, recuperando as alterações patológicas sem um tratamento sintomático das doenças. Considerando que o Rim é o órgão responsável pela produção da Medula, considerada a matriz comum da medula, cérebro e ossos, e pelo controle dos ossos (MACIOCIA, 1996), uma vez em estado de hipo-função, os rins deixarão de exercer a função de produzir medula e de controlar os ossos, permitindo que as doenças ósseas se instalem no organismo. (INSTITUTO SHEN, 2015) No entanto, os demais biotipos, como vemos no resultado da pesquisa, também poderão desenvolver a AR posto que o desenvolvimento desta patologia envolve outras variáveis como estilo de vida, hiper-função articular, pouca atividade física, exposição prolongada a fatores patogênicos, bem como questões de ordem psicossomática que levam a agressões articulares. Considerando estas variáveis, LEE (2002), propõe uma tabela de prescrição para patologias ortopédicas e reumáticas e clínica de dor, que inclui osteoartrite, artrite reumatoide, lombalgia, ciática, periartrite de ombro, tendinite, síndrome cérvico-braquial, traumas esportivos, polineurite diabética, nevralgia, distrofia simpático reflexa, dor talâmica etc.:

Pontos Principais Pontos Auxiliares
Tipo I Tonificar F8 ID5/ VB43
Sedar P5/ F4 IG2
Tipo II Tonificar R7 IG11/ B67
Sedar BP3 E45/ ID8
Tipo III Sedar F2 ID8/ VB38
Tonificar P8/ F4 IG11
Tipo IV Sedar R1 IG2/ B65
Tonificar BP3 E41/ ID3
Fonte: LEE, 2002

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