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Acupuntura e Analgesia

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Ana Claudia B. Zurron, Adriana F. Barrach, Valquiria Crepaldi
Monografia apresentada ao CETN Campinas – 2012.

 
1. INTRODUÇÃO
A dor é um mecanismo de proteção para o corpo, ocorrendo em qualquer tecido que sofra algum tipo de lesão, gerando assim uma experiência emocional e sensorial desagradável. Algumas técnicas podem reduzir este efeito nociceptivo, como a acupuntura, utilizando a aplicação manual de agulhas de forma sistêmica, e a auriculoterapia.

2. OBJETIVOS

O objetivo principal deste estudo foi verificar a ação da acupuntura nos diferentes tipos de dores: dor no quadril, lombalgia e dor no joelho. Ainda o trabalho teve como objetiv, investigar a ação analgésica periférica da prática da acupuntura em animais de laboratório para estabelecer o possível mecanismo de ação analgésico envolvido no estudo da dor inflamatória.

3. DESENVOLVIMENTO

Em animais, a estimulação do acuponto E36 e BP6 reduziu a dor mecânica de origem inflamatória de maneira significativa (p<0.05) na ordem de 95,6%. Ainda foi verificado que na prática da acupuntura em animais, as citocinas TNF alpha e IL-1 beta estão envolvidas na inibição da dor inflamatória. Também o tratamento da dor pela prática da acupuntura em pacientes com lombalgia, dor no quadril e nos joelhos, se mostrou eficaz. Aqueles que apresentavam dor nos joelhos foram tratados por diferentes técnicas de acupuntura como pontos relacionados à técnica de “ação energética”, Técnica do “canal unitário” e diferentes “pontos mestre”, obtendo uma melhora significativa na 5ª e 6ª sessão de acupuntura.Também, pacientes que apresentaram dor no quadril, obtiveram melhora, com o uso da acupuntura manual através da técnica “Local distante” e “Ação energética dos pontos”, assim como também a “técnica do canal unitário”. No tratamento clínico da lombalgia, as técnicas utilizadas foram os “Pontos Shu dorsais” assim como também alguns pontos distais da região da coluna lombar.Todos os pacientes que foram tratados sistemicamente pela acupuntura, receberam também a técnica da auriculoterapia, a qual favoreceu o tratamento no alívio da dor. Assim, a prática da acupuntura sistêmica e a técnica de auriculoterapia, forneceram uma melhora significativa em pacientes portadores de dor. O mecanismo de ação analgésico da acupuntura envolve a participação de citocinas inflamatórias como TNF -α e IL-1 β

4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1.Animais

Foram utilizados ratos Wistar machos (180-200 g) provenientes do CEMIB da Universidade Estadual de Campinas. Os animais permaneceram cerca de dois dias no biotério do Departamento de Fisiologia e Biofísica, sob condições de temperatura e ciclo claro/escuro controlados, com livre acesso à comida e água, antes de serem submetidos aos ensaios biológicos. Todos os experimentos foram realizados de acordo com as recomendações para experimentação de dor em animais (Zimmermann, 1983).

4.2.Teste do limiar nociceptivo mecânico da pata de rato

Após ambientação, os animais foram estimulados pelo agente inflamatório carragenina (100 µg), por via intraplantar (i.pl.). Na 3ª hora após a administração dos estímulos, os animais foram tratados pela técnica da acupuntura nas patas posteriores durante 30 minutos. Os pontos de acupuntura selecionados para tratar a hiperalgesia inflamatória em patas posteriores de animais foram E36 e BP6 (Medeiros et al., 2003). Geralmente na analgesia cirúrgica os pontos mais usados são o Zusanli (E36) associado ao SanYinjiao (BP6) ou Hegu (IG4) ou Yanglingquan (VB34). Segundo Chiu e colaboradores (2003), alguns pontos são conhecidos como “acupontos analgésicos”, porque, com frequência, promovem analgesia em humanos e animais.

4.3. Hiperalgesia em animais usando a metodologia de Von Frey

O uso de filamentos de Von Frey (Von Frey, 1896) é um método utilizado rotineiramente em procedimentos experimentais para avaliar nocicepção. Esse método foi adaptado para um equipamento eletrônico usado inicialmente em humanos (Jensen et al., 1986) e posteriormente em ratos (Möller et al., 1998). Neste trabalho, os experimentos foram realizados com um analgesímetro eletrônico (MODELO 1601C, LIFE SCIENCE INSTRUMENTS, Califórnia, EUA), que consiste em um transdutor de força conectado a um contador digital de força expressa em gramas (g). A precisão do aparelho é de 0,1 g e este está calibrado para registrar uma força máxima de 150 g, mantendo a precisão de 0,1 g até a força de 80 g. O contato do transdutor de força com a pata foi realizado através de uma ponteira descartável de polipropileno com 0.5 mm de diâmetro adaptada ao transdutor. Os animais foram colocados em caixas de acrílico, medindo 12x20x17 cm cujo assoalho consiste de uma rede de malha igual a 5 mm2, constituída de arame não maleável de 1 mm de espessura, durante 15 minutos antes do experimento para habituação ao ambiente. Espelhos foram posicionados 25 cm abaixo das caixas de experimentação para facilitar a visualização das plantas das patas dos animais (Figura 7).

O experimentador aplica, por entre as malhas da rede, uma força linearmente crescente no centro da planta da pata do rato até que o animal produza uma resposta caracterizada como tremor (“flinch”) da pata estimulada. Os estímulos foram repetidos por até seis vezes, em geral até que o animal apresentou 3 medidas similares com uma clara resposta de “flinch” após a retirada da pata. A intensidade de hipernocicepção foi quantificada como a variação na força (Δ de reação em gramas) obtida subtraindo-se a média de três valores expressos em gramas (grama-força), observada antes do procedimento experimental (0 hora) da média de três valores em gramas (grama-força) após a administração dos estímulos, os quais variarão de acordo com os protocolos experimentais.

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Figura 7: (a.1) ratos colocados em gaiolas de acrílico. (a.2) medidas 12 x 20 x 17 cm de altura com um assoalho de grade de arame. (a.3) um espelho inclinado abaixo das caixas permite a visualização das plantas das patas dos ratos. Figura 4B: (b.) ponteira de polipropileno de 0,7 mm2 (b1)ligada a um transdutor de força aplicado perpendicularmente ao centro da pata (b.2).

4.4. Indução de Hiperalgesia Inflamatória Mecânica Aguda

Primeiramente será feita uma medida basal com o analgesímetro de Von Frey nas patas traseiras dos animais. Para avaliação da ação analgésica periférica da prática da acupuntura em animais de laboratório, será injetado em uma das patas, o agente indutor da dor inflamatória carragenina (100 µg), por via intraplantar (i.pl.), já a pata contralateral, servirá de controle. Logo após o estímulo, os animais serão tratados com a acupuntura manual durante 30 minutos, em ambas as patas traseiras, direita e esquerda. Com o auxílio de um analgesímetro eletrônico (Von Frey) na 3ª hora após a administração do estímulo inflamatório por carragenina, os animais serão novamente avaliados no analgesímetro digital. Desta forma, será verificado se, a prática da acupuntura foi efetiva no tratamento da hiperalgesia aguda. Após verificação do efeito da ação da acupuntura no tratamento da dor de origem inflamatória, será avaliado se a redução dessa dor, se deu através da inibição de citocinas inflamatórias, como IL-6, TNF-α e IL-1ß. Para dosar o possível envolvimento dessas citocinas na gênese da dor inflamatória, experimentos de Enzima -imuno-ensaio (ELISA) foram realizados.

4.5. DOSAGEM DE CITOCINAS PELO MÉTODO DE ELISA

Uma adaptação de Safieh-Garabedian et al. 1995 foi usada para determinar se a técnica da acupuntura foi capaz de reduzir a liberação de IL-6, TNF-α e IL1-ß. O tecido subcutâneo plantar da pata de ratos foi coletado 180 minutos após a injeção subcutânea de carragenina. Esses tecidos foram pesados e homogeneizados na mesma proporção peso/volume em solução tampão fosfato salina (PBS) contendo 0,4M de NaCl, 0,05% de tween 20, 0,5% de albumina bovina sérica (BSA), 0,1 mM de fenil-metil-sulfonil fluorido, 0,1 mM de benzetônio clorido, 10mM de EDTA (ácido etilenodiamino tetracético) e 20 Kl/ml de aprotinina (Sigma, USA). Os exemplares foram centrifugados a 10.000 rpm por 15 minutos a 4º C. O sobrenadante foi estocado à 70º C para avaliação dos níveis de IL-6, TNF-α, IL1-ß. As citocinas foram quantificadas usando kits IL-6, TNF-α (Rat TNF-alpha/TNFSF1A Quantikine ELISA kit) e IL1-ß (Rat IL-1 beta/IL-1F2 Quantikine ELISA Kit). Todos os procedimentos foram realizados de acordo com as instruções do fabricante. Os resultados foram expressos como picogramas, baseando-se na curva padrão para cada citocina.

4. ANÁLISE ESTATÍSTICA

Resultados serão expressos como média ± erro padrão da média (e.p.m.) de 8 animais por grupo para os estudos comportamentais e de 4 animais por grupo nos estudos bioquímicos. A análise das curvas obtidas será feita pelo teste de análise de variância ANOVA ONE-WAY seguido de Teste de Dunnet para as comparações múltiplas. O nível de significância será de p<0,05.

5. RESULTADOS

Os experimentos realizados em animais de laboratório, mostraram que a prática da acupuntura é eficaz no tratamento da dor de origem inflamatória, usando os acupontos analgésicos E36 e BP6. De acordo com a Figura 8, verificou-se que o estímulo dos pontos E36 e BP6 nas patas posteriores de roedores, evitaram que esses animais sentissem dor. Os resultados de inibição da dor inflamatória por parte da acupuntura, obtido, foi da ordem de 95,6 % (p<0.05).

Após verificação da ação analgésica da acupuntura em animais, experimentos para dosagens de citocinas inflamatórias foram realizados com kits imunoenzimáticos para citocinas IL-1 beta, TNF alpha e IL-6. Os resultados mostraram que o mecanismo de ação envolvido na ação analgésica da acupuntura envolve a participação da Interleucina IL-1 beta e do TNF alpha (Figura 9, p<0.05).

Nossos dados mostraram ainda que a acupuntura sistêmica e a auriculoterapia foram técnicas efetivas na redução da dor e na melhora da qualidade de vida de pacientes portadores de dores no joelho, no quadril e na região lombar da coluna vertebral (Casos clínicos 1,2,3,4). Todos os pacientes apresentaram melhora com o tratamento da acupuntura e auriculoterapia e continuam em tratamento. Sabendo que a dor física está relacionada de forma direta com a saúde psicológica, nos pacientes portadores de síndromes dolorosas, notou-se que todos tiveram uma melhora significativa nos movimentos do corpo, na disposição das tarefas diárias e consequentemente na qualidade de vida.

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Figura 8: Tratamento de Animais pela técnica manual de Acupuntura em ratos submetidos a hiperalgesia mecânica induzida por Carragenina (i.pl). Os tratamentos ocorreram nos pontos analgésicos E36=Zusanli e BP6 =Sanyinjiao por 30 minutos. O ponto TA 8 (Sanyangluo) foi considerado o tratamento sham nesses animais (N=8).
*P<0.05 (análise de variância seguida de teste de DUNNET)

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Figura 9: Efeito da acupuntura e sham acupuntura na dosagem de citocinas inflamatórias IL-1 β, TNF α e IL-6 no modelo de indução de dor inflamtória pela injeção intra-plantar de carragenina (100 ug/pata). As medidas de citocinas foram realizadas após a 3ª hora do estímulo inflamatório. Os resultados são expressos como média ± EPM da concentração de citocina (N=8) *p<0.05 comparado ao controle (análise de variância seguida de teste de DUNNET).

Orientado por Luciana Vinagre, adaptado por Brena Montanha.

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