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A acupuntura no tratamento de constipação intestinal em criança com PC Tetraparética Espática

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DANIELE MARIANO
Artigo elaborado baseado em partes do Trabalho de Conclusão de Curso, Autora do artigo: Profa. Larissa A. Bachir Polloni – CETN

Em 1843, William Little, ortopedista inglês, relatou pela primeira vez uma enfermidade que afetava crianças prematuras ou nascidas de partos complicados que causavam asfixia perinatal, dando então o nome de “Sindrome de Little”. Little supôs que a pouca oxigenação provocava danos nos tecidos cerebrais responsáveis pelos movimentos (JONES et al, 2007; ROTTA, 2000; SOUZA; FERRARETTO, 1998).

A expressão Paralisia Cerebral (PC), se generalizou depois que o ortopedista Phelps, em 1937, o utilizou para diferenciá-lo da paralisia infantil causada pelo vírus da poliomielite. (BLECK, 1982; CANDIDO, 2004; DIAMENT; CYPEL, 1996; SOUZA; FERRARETTO, 1998). A partir de 1959, no Simpósio de Oxford, a PC passou a ser identificada como uma encefalopatia crônica não progressiva da infância, abrangendo um maior grupo etiológico, tanto do ponto de vista do quadro clínico, quanto da sintomatologia motora (ROTTA, 2002).

Nos Estados Unidos, em 2006, a PC passou a ser definida como um grupo de desordens motoras e posturais que causam limitação e são atribuídas a um distúrbio não progressivo ocorrido no desenvolvimento cerebral fetal ou da criança. As desordens motoras são frequentemente acompanhadas por distúrbios sensoriais, de percepção, cognição, comunicação, comportamento, problemas alimentais e intestinais (ROSENBAUM, 2007).

Múltiplas etiologias estão presentes, as quais resultam em lesão do sistema nervoso central (SNC), as lesões ocorrem nos períodos pré, peri e pós-natal levando ao comprometimento motor da criança (MARANHÃO, 2005).

Sua classificação baseia-se em dois critérios: tipo de disfunção motora, ou seja, o quadro clínico resultante que inclui os tipos extra-piramidal, atáxico, misto e espástico; e também de acordo com a parte comprometida, que inclui tetraplegia, monoplegia, paraplegia e hemiplegia (LEITE, 2004).

A espasticidade (aumento do tônus muscular, com exacerbação dos reflexos profundos) está presente em 75% dos casos. Essa condição é muito frequente entre as patologias infantis e tem incidência na população de aproximadamente 2 em cada 1.000 nascidos vivos a pode chegar a 7 por 1.000 em países em desenvolvimento (MANCINI, 2004). Em decorrência da lesão cerebral, esses pacientes podem apresentar várias complicações associadas que podem levar a déficit da qualidade de vida. Um dos alvos do tratamento da PC tetraplégica é a busca da melhor qualidade de vida possível (PUYUELO SANCLEMENTE, 2001; SANKAR; MUNDKUR, 2005).

A PC hoje afeta de dois a três em 1000 nascidos vivos em países desenvolvidos, devido a maior sobrevivência dos recém nascidos com muito baixo peso. Estudos mostram que bebes nascidos que peso inferior a 1Kg tem cerca de 50% de possuírem distúrbios neurológicos (PUYUELO SANCLEMENTE, 2001; SANKAR; MUNDKUR, 2005).

PARALISIA CEREBRAL (PC) SOB A VISÃO DA MEDICINA CHINESA

Não se tem ainda bem definido o conceito de PC pela MTC, porém MACIOCIA (2207) relaciona a debilidade da criança com a fraqueza hereditária da Essência do Rim (que pode ser decorrente da idade avançada dos pais ou da saúde debilitada na época da concepção).

A essência do rim gera a medula que preenche o cérebro e se a essência estiver deficiente não gerará medula suficiente, consequentemente haverá atraso mental nas crianças (MACIOCIA, 2007).

Tanto a deficiência do Yin do Rim quanto do Yang do Rim podem levar a deficiência da Essência do Rim. A Essência em seu aspecto Yang ativa as transformações, crescimento e reprodução. Enquanto que sua parte Yin fornece a base material para o crescimento, desenvolvimento e reprodução (MACIOCIA, 2007).

CONSTIPAÇÃO INTESTINAL SEGUNDO A MEDICINA OCIDENTAL

O intestino grosso tem como principais funções a formação, transporte e eliminação das fezes. Para isso utiliza 3 mecanismos, a mobilidade, que são movimentos rápidos e vigorosos do cólon associados a formação de haustros, chamados “movimentos de massa”, estes movimentos conduzem o conteúdo ao cólon sigmoide onde permanece até a eliminação. A absorção de água, realizada pela porção proximal do cólon até a flexura linela, o íleo conduz o quimo (massa pastosa que formará o bolo fecal) ao cécum enquanto absorve agua e eletrólitos. E a secreção de muco, sua função é a proteção da mucosa intestinal de agentes agressores (DANGELO E FATTINI, 2005).

O intestino depende da estabilidade desses três fatores para seu correto funcionamento. Primeiro, da motilidade colônica, com os movimentos de massa descritos anteriormente, segundo a sensibilidade retal, que acontece quando o sigmoide se torna preenchido, dá-se inicio a vigorosas contrações que esvaziam as fezes no reto, e a partir disso, ocorre o relaxamento do esfíncter interno e a contração do externo, neste momento, voluntariamente é contraído os músculos da parede abdominal e o diafragma, o que faz a pressão intra-retal se tornar elevada, superando a do canal anal (MAGALHÃES, 2006).

A constipação intestinal é a evacuação difícil ou pouco frequente das fezes, podendo ser classificada como funcional ou orgânica. A constipação intestinal funcional ocorre da combinação de vários fatores, como: hábitos sedentários, alimentação incorreta, má postura e falta de regularidade de horário para esvaziamento intestinal, com negação do reflexo de evacuação (AMBROGINI, 2003).

A constipação intestinal orgânica é considerada como obstipação secundárias, visto que seja sintoma de outra patologia. Acontece quando há uma doença intestinal ou não, seja ela anatômica, bioquímica ou endócrina, que pode ser acompanhada pelo comprometimento neurológico e/ou muscular que a caracterize (AMBROGINI, 2003; CHONG, 2001).

CONSTIPAÇÃO INTESTINAL SEGUNDO A MEDICINAL CHINESA

Segundo a MTC, a constipação intestinal é vista de forma similar a da medicinal ocidental quanto a sua definição, pois as duas consideram que esta síndrome seja resultante do movimento lento das fezes, geralmente secas, ao longo do intestino (MACIOCIA, 2007).

Para a MTC o Intestino Grosso não é o único responsável pela constipação, outros Zang Fu pode estar intimamente relacionado a ela. (MACIOCIA, 2007).

Seu par acoplado, o Pulmão é responsável por controlar a dispersão e descida do Qi e dos fluidos corpóreos, quando ocorre a deficiência desse Qi descendente ocorre a constipação. (MACIOCIA, 2007).

O Fígado também pode ser responsável pela constipação, sendo que sua principal função é manter livre o fluxo do Qi, portante ele é quem mantem o transito fluindo livremente no intestino e faz com quem os demais Zang Fu possam funcionar corretamente. (MACIOCIA, 2007).

O Rim governa a agua e controla os orifícios inferiores, a deficiência pode gerar o umedecimento insuficiente das fezes e fazer com que ocorra a estagnação das fezes. (MACIOCIA, 2007).

O Baço/Pancrêas realiza a transformação e transporte do bolo fecal no intestino grosso, se essa função estiver prejudicada ocorrerá a constipação. (MACIOCIA, 2007).

A falta das substancia fundamentais assim como o calor patogênico, derivados do Estomago, são fatores que corroboram com a constipação, pois causam o ressecamento das fezes (MACIOCIA, 2007).

METODOLOGIA: Foi realizado um estudo de caso com descrição qualitativa dos resultados observados. Paciente R.A.C., 5 anos, com diagnostico médico de paralisia cerebral tetraparética espástica. Faz uso diário dos medicamentos: Tegretol 7,5ml; Gardenal; Depakote Splinkle; Clobazan.

O tratamento foi realizado em sessões semanais durante 10 semanas, compreendendo o período de 10 de setembro de 2014 á 12 de novembro de 2014. Nas sessões foram utilizados pontos de cristal da DUX com micropore nos pontos citados abaixo:

VC12 – Harmoniza o estomago e fortalece o baço; E25 – Regula a subida e descida do Qi e regula o intestino grosso. É o ponto Mo (alarme) do intestino grosso; VC7 – Mobiliza o Qi; VC4 – Expande e reabastece o Qi fonte. Ponto Mo (alarme) do intestino delgado; BP15 – Regula o Qi e alivia a dor, restaura do equilíbrio do intestino grosso.

Foi realizada como critério de avaliação a tabela do Consenso de Roma III de constipação intestinal. Devido ao fato da paciente não esboçar fala, a mãe da criança respondeu as questões de acordo com o que observa na filha.

TABELA 1 – Avaliação da constipação intestinal baseado nos Critérios do Consenso de Roma

RESULTADO: Para fechamento do resultado foi usado como parâmetro uma tabela semelhante a do Consenso de Roma III e o relato da mãe da paciente.

TABELA 2 – Comparativo pós tratamento baseado nos Critérios do Consenso de Roma III

De acordo com a comparação feita entre os meses anteriores e durante o estudo com a aplicação dos cristais, foi possível observar que nos meses em que a criança encontrava-se em tratamento o período entre as evacuações diminuiu, foi reduzida a necessidade do uso de laxantes e de manobras manuais com o uso de supositório para estímulo na saída das fezes. E segundo relatos da mãe, a criança sentiu menos dores abdominais pois além da criança conseguir evacuar mais vezes, também conseguiu expelir mais gases.

CONCLUSÃO

Tendo em mente que as crianças com PC possuem limitações físicas impostas pela patologia e essas limitações colaboram com a constipação intestinal dessas crianças, este estudo mostra que por meio de recursos da MTC é possível amenizar o incomodo causado pela constipação nessas crianças.

Embora a avaliação do estudo não possa ter sido feito de modo adequado devido às limitações da paciente, percebeu-se melhora de vários fatores, inclusive nas cólicas abdominais.

Conclui-se que os objetivos propostos neste estudo foram alcançados de maneira satisfatória e sugere-se que sejam feitos novos estudos de acupuntura em pacientes com paralisia cerebral, visto que esses pacientes já utilizam muitos medicamentos e estão abertos a terapias naturais.

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