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A Acupuntura como aliada da Psicoterapia no Tratamento dos Distúrbios do Shen

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Imagem Iustrativa – Envato

Baseado no TCC da aluna: FRANCISCA ELISÂNGELA LOPES DOS SANTOS

INTRODUÇÃO

As bases filosóficas da Psicologia e Acupuntura são diferentes. A primeira está embasada na visão Ocidental de homem e doença e a segunda na visão Oriental segundo a Medicina Tradicional Chinesa. Ainda existem divergências nas visões de temas relevantes para a Psicologia como a integração mente e corpo e influência das emoções no corpo humano, mas algumas linhas de estudos psicológicos já consideram a influência mútua e concomitante entre mente e corpo e a importância das emoções para o surgimento de doenças que vão além da psique e podem ser somatizadas – o que corrobora com alguns dos preceitos da Acupuntura.

A Acupuntura apresenta uma influência profunda sobre problemas emocionais e mentais, mas tem limitações. Para o tratamento de doenças mentais graves, a Acupuntura poderá ser utilizada para auxílio combinada com o trabalho de um psicoterapeuta. (MACIOCIA, 1996).

A Síndrome Energética do Distúrbio do Shen traz uma visão simples e clara de como as emoções afetam o funcionamento da atividade mental e do organismo como um todo. O Shen está alojado no coração, assim como o sangue e circula por todo o corpo através dos vasos sanguíneos, sendo, portanto, uma energia dinâmica essencial para a vida e o equilíbrio do ser humano.

As diferentes abordagens e técnicas terapêuticas, proporcionam ao psicólogo conhecimento e habilidade para tratar os mais variados tipos de Distúrbios Mentais. A seguir, estão relacionados os principais:

Distúrbios de Ansiedade

Sentir ansiedade não é um problema. Todos as pessoas passam por situações cotidianas que geram ansiedade: uma viagem muito esperada, uma prova, uma entrevista para novo emprego, a apresentação de um trabalho, etc.

O quadro de distúrbio de Ansiedade é caraterizado pela Ansiedade que incapacita uma pessoa. Quando isso ocorre, a pessoa não consegue controlar as emoções e pode apresentar medo irracional e paralisante pensamentos e ações repetitivas além de sintomas físicos (vertigens, suor excessivo, palpitações, tremores, zumbidos no ouvido, insônia, etc). Dentre os tipos mais comuns estão:

• Síndrome do Pânico. As pessoas acometidas ficam a maior parte do tempo tensas e nervosas e sentem que algo muito ruim pode acontecer a qualquer momento, além de experimentarem sensações físicas que as levam a acreditar na possibilidade de morte (a maioria relata taquicardia, falta de ar e/ou sensação de sufocamento). Esses episódios caracterizam um ataque de pânico. O que é mais impactante para as pessoas que sofrem deste distúrbio é a incapacidade de identificar o que desencadeia os ataques e como sabem como evita-los é comum passarem a ter medo de sair de casa e se relacionar com outras pessoas.

• Fobias. É a ansiedade focada em um objeto, atividade, situação ou lugar específicos e, diferente da Ansiedade Generalizada, é identificada. Do mesmo modo que a ansiedade, ter medo de algo ou alguma coisa é muito comum entre os seres humanos (medo de cobras e outros animais peçonhentos, medo do escuro, medo do sobrenatural, etc.), mas quando este medo é irracional e incapacitante ele é caracterizado como um Distúrbio de Ansiedade.

• Transtorno Obsessivo- Compulsivo. Todas as pessoas têm hábitos ou manias que se repetem quase que como um ritual e nisso não há problema nenhum. As pessoas que sofre de transtorno obsessivo- compulsivo demonstram comportamentos extremamente persistentes e exagerados e eles normalmente estão ligados à busca de evitar que alguma coisa muito terrível aconteça. Esse temor causa um enorme sofrimento e a aflição é tão grande que interfere na maneira como vivem e os pensamentos obsessivos e/ou comportamentos compulsivos se tornam tão frequentes que lhes tomam grande parte do tempo.

As possíveis causas dos transtornos de Ansiedade variam de acordo com a perspectiva de pensamento: a psicanálise os atribui aos impulsos reprimidos, a linha comportamental e cognitiva ao condicionamento do medo, generalização de estímulos, reforço e aprendizagem pela observação. Há também a linha biológica que considere as possíveis influências evolutivas, genéticas

Distúrbios Dissociativos

Ocorre quando a percepção consciente fica separada de memórias, pensamentos e sentimentos. Quando esse evento ocorre de forma isolada devido uma situação muito estressante não é caracterizado um distúrbio, mas há casos em que esses eventos se tornam intensos e prolongados:

• Amnésia Dissociativa. Trata-se de uma amnésia seletiva, normalmente associada a um estresse psicológico intolerável e descartadas as possibilidades de uma lesão na cabeça ou intoxicação por drogas.

• Fuga Dissociativa. Além da perda de memória mais abrangente do que nos casos de Amnésia Dissociativa, as pessoas realmente fogem do seu ambiente atual de convívio (casa, trabalho, etc.) e de sua própria identidade. Essa fuga pode durar, dias meses ou até mesmo anos.

• Distúrbio de Dissociação da Identidade. Também conhecido como Distúrbio de Personalidade Múltipla. As pessoas acometidas têm duas ou mais personalidades muito diferentes entre si e cada uma delas controle o comportamento de forma alternada.

Distúrbio de Ânimo/ Humor

Estão relacionados ao estado de apatia e desesperança profunda característicos da depressão onde dois quadros podem ocorrer:

• Distúrbio Depressivo Profundo. É o principal motivo de procura por atendimento psicológico. É diferente de estar triste com algum evento doloroso como a perda de um ente querido. Quando a tristeza e o desânimo são profundos, persistentes e sem causa perceptível, estendendo-se a maior parte do dia, durante meses ou anos caracterizamos a depressão.

• Distúrbio Bipolar. É caracterizado pela alternância entre o estado depressivo e o estado de mania (euforia, hiperatividade, otimismo e auto- estima exagerados).

Na tentativa de explicar as causas da depressão, pesquisadores estudam dois tipos possíveis de influências: predisposição genética e anormalidades de neurotransmissores ou sob a perspectiva social-cognitiva tomando como base os conceitos de convicções de fracasso, desamparo adquirido, atribuições negativas e experiências aversivas (MYERS, 1999).

Esquizofrenia

Esquizofrenia significa “mente dividida” e neste caso trata-se de uma divisão da realidade evidenciada por distúrbios de pensamento, distúrbios perceptivos e emoções e/ou ações dissociadas da realidade.

O pensamento do esquizofrênico é fragmentado e normalmente acometido por delírios. Como a percepção da realidade está deteriorada, as pessoas com esquizofrenia podem ter alucinações na maioria das vezes auditivas (em poucos casos, veem ou sentem cheiros, sabores, odores, mas ouvem vozes de pessoas inexistentes). A expressão das emoções tende a ser imprópria: rir em situações de pesar (como a morte e chorar em situações engraçadas) e podem apresentar movimentos compulsivos ou estado catatônico.

É um distúrbio que acaba com os relacionamentos interpessoais e raramente é um episódio isolado.

Psicologia X Acupuntura

Com base nos conceitos principais que regem as duas áreas de conhecimento e terapias, é possível observar que há muitos aspectos em comum identificados com termos diferentes, mas que trazem a premissa básica de olhar para o ser humano como ser único, cuja mente e corpo não podem ser separados e se influenciam mutuamente.

Para a Psicologia as emoções são um importante tema de estudo, visto o tamanho poder que exercem para a psique e fisiologia humana. De acordo com Hebb, entre todas as espécies os seres humanos parecem ser os que mais se emocionam (apud MYERS, 1999).

A experiência da emoção inclui a excitação fisiológica, o comportamento expressivo e a consciência. Há divergências teóricas sobre se sentimos emoção depois que notamos as reações fisiológicas ou se ambas ocorrem concomitantemente, mas isso não implica na certeza sobre a relação entre essas duas ações (mental e física).

Situações de stress intenso e constante que consequentemente promovem alta carga emocional afetam o funcionamento natural do corpo humano e podem leva-lo a adoecer. Atualmente, especialistas da saúde consideram a existência das doenças psicossomáticas, cujas causas são psicológicas, mas as manifestações e sintomas são físicos. Segundo este conceito, os órgãos mais afetados são: estômago (dor, queimação, gastrites, ulceras), intestino (diarreias, prisão de ventre), garganta (sensação de nó, inflamações), pulmões (falta de ar, sufocamento), músculos e articulações (tensão, contraturas e dores), Coração e Circulação (dores no peito, palpitações, pressão alta), rins e bexiga (dor, dificuldade para urinar), pele (coceira, irritação, formigamentos).

Da mesma forma, a Acupuntura considera relevante a influência das emoções sobre os órgãos, podendo causar desequilíbrio energético.

Uma das características mais marcantes da medicina Tradicional Chinesa é a Unidade do Corpo e da Mente. A fisiologia emocional e os processos mentais são partes da esfera de ação dos Sistemas Internos e cada um deles está relacionado à uma emoção que pode afetá-lo ou ser afetada por ele (MACIOCIA, 1996).

Desta forma a raiva afeta o Fígado, a euforia afeta o Coração, a tristeza o Pulmão, o Medo o Rim e a preocupação o Baço-Pâncreas. A Acupuntura estabelece um padrão de tratamento com foco no paciente, não se trata a doença e sim a pessoa doente com olhar holístico mente e corpo, ou seja, se a queixa principal é uma síndrome relacionada ao rim como lombalgia, o acupunturista levará em consideração a emoção relacionada e sua implicação para a psique e todo o ciclo energético.

Algumas abordagens psicoterapêuticas utilizam a simbologia como recurso e afirmam que para entender a dimensão do mundo psíquico é preciso transcender o pensamento linear e racional e entrar no mundo intuitivo dos símbolos. A psicossomática considera que várias doenças tem um componente simbólico: a hipertensão arterial pode significar uma tensão excessiva, dores de estômago dificuldade para digerir não só alimentos, mas situações e problemas de difícil aceitação ou solução, etc. (CAMPIGLIA, 2004). A Medicina Tradicional Chinesa e a Acupuntura como uma de suas vertentes, fazem grande uso da Simbologia para elaborar seus princípios, teorias e conceitos. Para os chineses, utilizar os símbolos para construção do pensamento é algo mais simples de ser feito do que para os ocidentais dado que culturalmente essa forma de conhecimento é aplicada desde a infância, inclusive na escrita que se vale dos ideogramas onde cada palavra é formada por “desenhos” que a representam.

Podemos dizer que na concepção da MTC (Medicina Tradicional Chinesa) sobre o comportamento psíquico, os órgãos elaboram uma energia particular que é veiculada ao coração pelos meridianos e este por sua parte elabora os humores psíquicos que se dirigem até o cérebro.

O mesmo é observado na medicina grega de Hipócrates e mais tarde por Galeno com sua definição dos quatro tipos psíquicos: colérico, sanguíneo, fleumático e melancólico. Se observamos os conceitos da neuro endocrinologia do comportamento podemos dizer que o Jing representa as secreções hormonais relacionadas aos órgãos e os Shen representam as consequências das secreções endócrinas sobre o comportamento psíquico.

OBJETIVO

Buscar na literatura indicações do uso da Acupuntura como aliada do processo Psicoterapêutico nos distúrbios mentais, enfatizando as possíveis semelhanças entre as duas linhas de terapia e pensamento: Psicologia e Acupuntura.

METODOLOGIA

A Metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica centrada nos Fundamentos e História da Psicologia e Acupuntura, suas diferenças e semelhanças. As fontes pesquisadas foram livros dedicados ao tema e Google Acadêmico, Scielo.

DISCUSSÃO

No presente estudo, a pesquisa bibliográfica evidencia que apesar de terem bases filosóficas e origens diferentes, Acupuntura e Psicologia apresentam semelhanças tanto de preceitos como de prática clínica no tratamento de Patologias Mentais/ Distúrbios do Shen.

Foi possível observar que dois princípios fundamentais da prática terapêutica unem as duas visões:

a) A consideração do ser humano com um ser integrado, no qual não podemos separar o corpo e mente tendo em vista que ambos se influenciam mutuamente na origem da patologia ou desequilíbrio.

b) O papel do terapeuta na eficácia do tratamento com seu interesse sincero e real pelo paciente, postura positiva e conduta ética.

A pesquisa bibliográfica nos permite conhecer diferentes estudos recentes que visam correlacionar Psicologia e Acupuntura e comprovar a maior eficácia de tratamento quando há associação das duas práticas. Além disso, discorre sobre a orientação desta parceria em distúrbios psíquicos considerados mais severos.

É importante considerar o fato de a Psicologia ser uma ciência jovem e em constante evolução e que aliá-la à Acupuntura ainda não é uma prática muito comum. Para a comprovação da maior eficácia no tratamento com as duas terapias conciliadas é necessário um número maior de pesquisas com a finalidade sugerida.

CONCLUSÃO

A presente pesquisa permite concluir que há relevância em utilizar a prática da Acupuntura como aliada da Psicoterapia.

Em Psicopatologias mais graves, inclusive, a recomendação é garantir o acompanhamento por psicoterapeuta devidamente capacitado.

Alguns dos autores pesquisados discorrem sobre associações entre as duas terapias e aplicações práticas da Acupuntura para tratamento de distúrbios mentais segundo a visão da Medicina e/ou Psicologia Ocidental.

A discussão sobre a relevância da Associação entre Psicologia e Acupuntura é muito pertinente, mas é necessário um maior número de pesquisas e estudos sobre sua eficácia. Profa. Ma. Luciana Mendes Vinagre

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