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Como balancear alimentos que ‘aquecem’ e que ‘refrescam’ pode beneficiar sua saúde

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Muitas pessoas querem balancear sua alimentação. Há um novo tipo de equilíbrio alimentar que talvez seja interessante: balancear os alimentos que aquecem e os que refrescam.

O esforço para alcançar um equilíbrio no corpo está ao cerne da medicina tradicional chinesa, e a alimentação exerce um papel crucial para chegarmos a esse equilíbrio.

“A medicina chinesa é baseada na filosofia do yin e do yang, duas forças opostas, mas complementares, que compõem a vida e a energia”, explicou Felicia Yu, médica e professora clínica de ciências da saúde no Centro de Medicina Oriente-Ocidente da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA).

Na medicina chinesa, a alimentação é vista como uma maneira de conservar o equilíbrio energético, disse Yu. A dieta é vista como algo dinâmico que deve mudar de acordo com o estado de saúde da pessoa, seu ambiente e seu estilo de vida.

“A medicina tradicional chinesa reconhece que todos os alimentos possuem uma energia particular”, disse Yu. “Alguns são mais yin, outros são mais yang. Os alimentos yin são vistos como sendo refrescantes e umidificantes, enquanto os alimentos yang nos aquecem e ressecam.”

A medicina chinesa encara as folhas verdes e o tofu como alimentos que refrescam.

Os termos “aquecer” e “refrescar” não aludem necessariamente à temperatura do alimento nem a ele ser picante ou não, mas à energia que ele tem. Para os especialistas em medicina chinesa, os alimentos possuem o poder de curar e harmonizar o corpo, a mente e o chi – a força vital de cada pessoa.

As propriedades curadoras dos alimentos, segundo a medicina chinesa

A alimentação forma parte dos fundamentos da medicina tradicional chinesa há séculos, ao lado da acupuntura, moxabustão (um tipo de terapia à base de calor aplicado), medicina fitoterápica e exercício físico. O princípio básico é o esforço para restabelecer o equilíbrio correto entre yin e yang, explicou Zhan Xiang Wang, professor e praticante de medicina chinesa na National University of Health Sciences.

Para alcançar esse equilíbrio procurado, os alimentos são divididos entre os que aquecem e os que refrescam.

O corpo pode ficar aquecido ou frio demais devido a fatores internos ou externos, como doenças, clima, estações do ano ou consumo excessivo ou insuficiente de determinados alimentos, disse Carla Wilson, reitora do American College of Tradicional Chinese Medicine, do California Institute of Integral Studies.

Quando o corpo está aquecido demais, a pessoa pode apresentar prisão de ventre ou ressecamento, que pode ser devido ao consumo de muitos alimentos picantes ou a passar tempo demais em um clima quente e seco, ela explicou. “Quer dizer que há calor demais mantido dentro do corpo sem ser liberado”, ela disse.

Quando há frio demais no corpo, isso pode ser porque a pessoa tem um resfriado, contraiu um vírus ou sofre de uma deficiência, algo que, segundo Wilson, pode causar problemas como fadiga, diarreia e confusão mental.

“Uma maneira de começar a corrigir esses problemas – aquecido demais, que é um excesso, ou frio demais, uma deficiência – é pensá-los em termos da alimentação”, ela disse.

Do ponto de vista da medicina chinesa, consumir alimentos refrescantes reduz o calor, enquanto os alimentos que aquecem elevam o calor. A ideia é encontrar um equilíbrio entre as duas coisas. Esse equilíbrio varia de pessoa a pessoa e é baseado na constituição individual de cada uma.

Algumas pessoas podem ter uma constituição desequilibrada (quente demais ou fria demais), mas isso não significa necessariamente que tenham um problema médico, disse Jinhua Xie, acupunturista, praticante da medicina chinesa de ervas e professor de medicina oriental no Midwest College of Oriental Medicine.

“Os alimentos que aquecem ou que refrescam podem ser consumidos com base na composição corporal da pessoa para ajudar a corrigir alguma anormalidade na sua constituição e prevenir doenças”, explicou Xie. “Nesse caso, a comida é utilizada para fins terapêuticos.”

Na medicina chinesa, os alimentos são mais ou menos yin (refrescantes) e yang (que aquecem) – nada é puramente yin ou puramente yang.

Alimentos que aquecem e alimentos que refrescam

Na medicina chinesa, os alimentos são mais ou menos yin (refrescantes) ou yang (que aquecem) – nada é apenas yin ou apenas yang, explicou Yu. Cada alimento possui mais ou menos energia yin ou yang, só isso.

Os alimentos considerados mais yin incluem vegetais folhosos escuros como o espinafre, além de raiz de lótus, rabanete, folhas de dente-de-leão, pepino, broto de bambu, algas marinhas, melancia, chá verde, chá de camomila, chá de hortelã, mariscos, caranguejos e tofu, disse Yu.

Os alimentos mais yang incluem pimentas, frango, carne bovina, carneiro, chá de canela, chai, gengibre, alho, cebolas, alho-porró, abóbora, cebolinha e cerejas.

De acordo com Wang, outra parte importante da classificação dos alimentos na medicina chinesa tradicional é o sistema de cinco sabores, em que sabores específicos são yin ou yang. Por exemplo, sabores doces e picantes possuem qualidades yang, enquanto sabores salgados, azedos e amargos têm qualidades yin.

Os sabores beneficiam diferentes órgãos do corpo de maneiras específicas, disse Wang. O doce beneficia o estômago; o acre, os pulmões; o salgado, os rins; o azedo, o fígado, e o amargo, o coração.

“Mas o excesso de um sabor qualquer também pode prejudicar certos órgãos”, ele prosseguiu.

Equilibrar corretamente os alimentos yin e yang em sua dieta é crucial para alcançar a saúde ótima, disse Xie. A moderação ajuda a encontrar o equilíbrio: comer um excesso de alimentos que aquecem ou refresquem, por mais saudáveis eles possam ser, pode gerar um desequilíbrio e levar o corpo a adoecer.

“Consumir um grupo de alimentos (os que aquecem ou os que refrescam) em excesso vai provocar um acúmulo de calor ou frio”, disse Xie.

“Quando está fazendo frio, uma sopa ou um guisado com raízes, alho, gengibre, cebolas e abóbora pode ser útil para aquecer o corpo”, disse a médica Felicia Yu.

Como balancear os alimentos yin e yang

Balancear os alimentos yin e yang no seu prato é um processo complexo e individualizado. Recomenda-se consultar um praticante de medicina chinesa, que poderá avaliar sua constituição física e ajudar você a balancear sua alimentação.

Xie explicou que os praticantes usam um questionário para avaliar a composição corporal do paciente. A classificação de constituições abrange um tipo balanceado e nove não balanceados. As recomendações alimentares serão feitas segundo a constituição física do paciente.

Yu ofereceu alguns exemplos de uma refeição com bom equilíbrio entre yin e yang.

“Quando está fazendo frio, uma sopa ou um guisado com raízes, alho, gengibre, cebolas e abóbora pode ser útil para aquecer o corpo”, ela explicou. “Se estiver fazendo calor, uma ótima maneira de refrescar o corpo seria consumir uma tigela de arroz integral com espinafre ou couve refogada, tofu, sementes de gergelim, pepino, tomate, grão-de-bico, bardana e alimentos fermentados como chucrute.”

A nutrição baseada no yin e yang é holística

É difícil comparar a nutrição, conforme é vista na medicina chinesa, com os paradigmas ocidentais. Muitas dietas ocidentais enfocam a redução ou eliminação de tipos específicos de alimentos; é o caso das dietas de baixa gordura ou a low carb. Para Yu, a ênfase do sistema nutricional chinês sobre os alimentos yin ou yang constitui uma abordagem muito mais holística.

“Enfocar as calorias e os carboidratos é útil em algumas situações, mas é um modo reducionista de encarar a comida”, disse Yu. “Nem sempre leva em conta a pessoa como um todo. Comer pensando nas propriedades energéticas dos alimentos é uma maneira holística de viver que promove a saúde e o bem-estar, levando em conta a qualidade dinâmica dos seres humanos.”

O equilíbrio entre yin e yang e o comer com intenção estão no cerne das terapias alimentares na medicina chinesa. Nesta, o monitoramento da dieta no longo prazo é essencial para alcançar o equilíbrio e garantir que uma pessoa com constituição fria evite consumir alimentos refrescantes em excesso, ou, inversamente, que pessoas de constituição quente evitem um excesso de alimentos que aquecem, disse Xie.

Ele explicou: “Na medicina chinesa, quando se segue o princípio da medicina clínica, tratando as doenças com base em padrões, os alimentos são vistos como uma ferramenta terapêutica e são recomendados com base no padrão do paciente, quando ele está doente, ou com base nos tipos de constituição, quando o paciente não está doente mas possui uma anormalidade em sua constituição. Logo, podemos dizer que trata-se de comer com intenção.”

*Este texto foi originalmente publicado no HuffPost US e traduzido do inglês.

fonte: huffpostbrasil.com

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