FABIANA GAIANI DE CARVALHO
LUCIANO MARQUES DE SOUZA
Artigo elaborado baseado em partes do Trabalho de Conclusão de Curso, Autora do artigo: Profa. Larissa A. Bachir Polloni – CETN
Durante milênios acreditou-se que o mecanismo de ação da acupuntura fosse puramente energético. Marques (2009) fala que estes conceitos remontam há aproximadamente 5.000 anos atrás, surgindo da observação, por parte dos chineses, da natureza em comparação com o homem a fim de entender os princípios que regem os universos, externo e interno do ser humano. No entanto, com a difusão da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) no ocidente, muitos pesquisadores começaram a questionar sobre a participação de estruturas orgânicas no mecanismo de ação da acupuntura, e o desenvolvimento de pesquisas nessa área, principalmente nas últimas décadas, evidenciou estreita relação entre os efeitos da acupuntura e o sistema nervoso central (SNC) e o periférico (ONETTA, 2005).
Atualmente, na concepção neurofisiológica de ação da Acupuntura, observou-se que as agulhas agem, principalmente sobre as fibras nervosas A – delta e C, desencadeando potencial de ação na membrana destas fibras cujo estímulo segue até a medula espinhal, por onde através de séries de sinapses podem estabelecer arcos reflexos, estimular os neurônios pré-ganglionares e projetar-se através dos tractos espinorreticular e espinotalâmico para o encéfalo (YAMAMURA et al,1996). Assim sendo, ocorre a liberação de neurotransmissores, como bradicinina e histamina, e os estímulos são conduzidos ao SNC pelas fibras A-delta, espessas e mielinizadas, e pelas fibras C, finas e amielínicas, localizadas na pele e nos músculos. As fibras A-delta, ao terminarem no corno posterior da medula, estimulam os neurônios encefalinérgicos por meio de sinapses a liberarem encefalina, bloqueador da substância P (neurotransmissor que estimula a dor), inibindo, assim, a sensação dolorosa. Os estímulos continuam por meio principalmente do trato espinotalâmico lateral (TEL), até o tronco encefálico, liberando serotonina, que será responsável pelo aumento dos níveis de endorfina e de ACTH (hormônio adenocórtico-trófico) e, conseqüentemente, de cortisol nas supra-renais, garantindo assim o efeito benéfico da acupuntura no estresse e na ansiedade do paciente. Esse processo segmentar – via da dor – é o modo de ação mais simples e provável para explicar as modulações das funções orgânicas por meio da acupuntura (ONETTA, 2005).
Ainda Zhang et al (2003) diz que a aplicação de agulhas superficialmente sobre a pele ou mais profundamente atingindo tecidos musculares, nervosos, ligamentos ou ossos, provoca um tipo de estimulação sensorial vinda da estimulação seletiva de pequenas áreas chamadas de acupontos. O acuponto é uma região da pele em que há uma grande concentração de fibras nervosas espinhais. São pontos altamente vascularizados e inervados, resultando numa baixa resistividade elétrica local. O tecido lesado pela Acupuntura produz as mesmas características de um processo inflamatório; a inserção de agulha estimula a liberação de peptídeos, substância P, histamina, bradicininas e enzimas proteolíticas que culminam com o aumento da irrigação sanguínea local. E, juntamente com o aumento da irrigação sanguínea, há um aumento de serotonina, prostaglandinas e células de defesa do organismo.
Outra região do SNC que já observou-se ter uma relação com os mecanismo de ação da acupuntra foi a formação reticular (ou sistema reticular ativador ascendente – SRAA); que consiste em grupos de neurônios e fibras neurais que comunicam os núcleos cerebrais entre eles e com centros subcorticais, centros talâmicos, centros do cerebelo, centros mesencefálicos, medula oblonga e medula espinhal. Funcionalmente, controlam os mecanismos reguladores do sono, tônus muscular, nível de consciência, ritmo cardíaco e respiratório, tônus vasculares, mediando as funções motoras, autonômicas e sensoriais. No nível dos núcleos da formação reticular é conduzida quase toda a informação a respeito da sensibilidade e ritmos. Informações que são analisadas quantitativas e qualitativamente mediando à dimensão afetivo-motivacional da experiência dolorosa e da relação comportamental da dor, tornando fundamental o papel da formação reticular na percepção e na modulação da dor. Observa-se ainda que a ativação da formação reticular regula o nível das funções basais do SNC de acordo com a informação que recebe das vias sensoriais. A ação dos mecanismos homeostáticos da formação reticular pode ser conseguida apenas com a estimulação sensorial como a inserção de agulhas na pele pela acupuntura. Dessa forma a inserção da agulha pode atuar como estímulo mecanoceptivo modulando o estímulo sensitivo doloroso periférico quando é enviado até a medula, e assim, impedir a transmissão do impulso e a seqüência de sinapses até os centros superiores.
Também a liberação de endorfinas para o líquido cefalorraquidiano durante o uso da acupuntura e de seus efeitos analgésicos explicaria as conclusões chinesas de que esta técnica libera uma substância inibidora da dor, estando presente, também no líquido cefalorraquidiano (ANDRADE et al., 2004). Relata-se que quando o líquido cefalorraquidiano de um coelho submetido à Acupuntura é transferido para outro coelho não tratado, o animal receptor mostrava alteração na sensibilidade à dor semelhante a do animal tratado com acupuntura.