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Estudo da fitoterapia chinesa e brasileira aplicadas às principais síndromes de fígado

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Guerra, R. M. F.; Dutra, T. B.
Artigo elaborado através do trabalho de conclusão de curso CETN.

1. INTRODUÇÃO
A medicina fitoterápica é tão antiga quanto a própria humanidade. Os primeiros seres humanos eram caçadores-coletores cuja sobrevivência dependia do conhecimento do seu ambiente. A experiência direta os ensinou quais plantas eram tóxicas, quais forneciam força e sustentavam a vida e quais possuíam qualidades especiais de cura. Essas primeiras descobertas foram repassadas até que milhares de anos e milhões de tentativas humanas levaram à evolução de um sistema incrivelmente sofisticado de diagnóstico e medicina fitoterápica

2. DESENVOLVIMENTO
2.1. PLANTAS BRASILEIRAS MAIS UTILIZADAS NAS PATOLOGIAS DO FÍGADO:

Cada planta possui inúmeros princípios ativos e por isso quase sempre possuem diversas propriedades e indicações. No entanto, como este trabalho trata especificamente das síndromes do fígado, daremos ênfase nas atividades e propriedades relacionadas ao sistema hepato-biliar. A seguir será feita uma breve descrição das principais plantas usadas na fitoterapia brasileira para os transtornos do fígado.

2.1.1. Aloe vera (Babosa)
– Posologia: Uso externo: gel mucilaginoso fresco. Uso interno: pó – 0,1g a 0,3g como purgativo e dose máxima: 1,5g por dia. Tintura: 20 gotas antes das refeições como digestivo (BOTSARIS, 1997).

2.1.2. Arctium lappa (Bardana)
– Posologia: De 10 a 20g ao dia em decocção ou infusão. De 1.500 a 3.000mg de pó ao dia. De 5 a 20ml de tintura ao dia (BOTSARIS, 1997).

2.1.3. Bacharis trimera (Carqueja)
– Posologia: Planta seca: de 5g a 12g por dia. Pó: de 500mg a 1.500mg. Tintura: 5 a 25ml/dia. Extrato fluido: de 1 a 5ml ao dia (BOTSARIS, 1997; SAAD, 2002).

2.1.4. Cúrcuma longa (Cúrcuma, Açafrão)
– Posologia: Decocção: 3 a 10g/dia. Pó: de 500mg a 2g. Fresco: 5 a 15g por dia. Tintura: 6 a 15ml por dia (BOTSARIS, 1998; LORENZI & MATTOS, 2008).

2.1.5. Cynara scolymus (Alcachofra)
– Posologia: Planta seca: 1 a 9g/dia. Extrato fluido: dose máxima diária: 5ml. Extrato seco: de 200 a 1g/dia. Tintura: 5 a 25ml/dia (BOTSARIS, 1997; SAAD, 2002).

2.1.6. Mentha piperita (Hortelã)
– Posologia: Decocção: de 3 a 6g. Pó: 300 a 1.500mg. Tintura a 20%: de 2 a 10ml ao dia (BOTSARIS, 1997).

2.1.7. Peumus boldus (Boldo do chile)
– Posologia: Infusão ou decocção a 5% – até 20ml/dia. Planta seca: 2 a 10g/dia. Extrato fluido: máximo 5ml. Tintura: máximo 25ml (BOTSARIS, 1997; FRANCESCHINI, 2004).

2.1.8. Rosmarinus officinalis (Alecrim)
– Posologia: Planta seca: de 3 a 10g ao dia. Pó: de 800mg a 3g ao dia. Extrato fluido: de 1 a 5ml/dia. Tintura: de 5 a 30ml/dia. Uso externo: 5 a 10% em infusão para banhos, 5-10 gotas de óleo essencial em 500ml de água quente (BOTSARIS, 1997; SAAD, 2003).

2.1.9. Salvia officinalis (Sálvia)
– Posologia: Planta seca: 1 a 5g ao dia. Infuso ou decocto: 5 a 15g/dia. Extrato fluido: 1 a 5ml/dia. Tintura: 5 a 25 ml/dia. Pó: 1 a 2g diretamente sobre as áreas afetadas. Uso externo: Infusão a 5% (BOTSARIS, 1997; FRANCESCHINI, 2004; SAAD, 2003).

2.1.10. Silybum marianum (Cardo mariano)
– Posologia: No caso do extrato seco em cápsulas, deve optar por suplementos com um mínimo de 70 a 80% de extrato normalizado de silimarina, devendo tomar cerca de 140 a 210mg, três vezes ao dia (VALE, 2005).

2.1.11. Solanum melongena (Berinjela)
– Posologia: Decocção a 2% dos frutos (uma xícara em jejum) ou a maceração do fruto em água por uma noite tomando em jejum no dia seguinte (ALONSO, 2008).

2.1.12. Taraxacum officinale (Dente de leão)
– Posologia: Usam-se normalmente as folhas e a raiz, tanto em sumo fresco como em infusão. É também comum sob a forma de cápsulas. Infusão ou decocção: de 9 a 30g. Pó: de 1g a 4,5g. Extrato seco: de 500mg a 2,5g (BOTSARIS, 1997; VALE, 2005).

3. METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, buscando reunir informações de vários autores e experiências de profissionais atuantes na área sobre a utilização da Fitoterapia Chinesa e Brasileira nas síndromes do Fígado.

4. DISCUSSÃO E RESULTADOS
Segundo a MTC, a direção normal do movimento do QI do Fígado é parcialmente ascendente e parcialmente exterior em todas as direções, a fim de assegurar o fluxo contínuo e uniforme do QI em todas as direções. Observa-se que a grande maioria das plantas brasileiras e fórmulas magistrais para o tratamento das síndromes do Fígado apresenta sabor amargo, o qual possui movimento para baixo e centrípeto, tem propriedade de dispersar calor e apagar o fogo dentre outras funções. Na maioria das síndromes do Fígado ocorre uma ascensão de energia, um aumento do calor/fogo no organismo e o fluxo contínuo e homogêneo do Qi é alterado nas suas direções. Portanto, verifica-se o sabor amargo importantíssimo no tratamento, uma vez que controla todas estas alterações no funcionamento do Fígado.

Muitas plantas brasileiras citadas neste trabalho também apresentam o sabor frio/refrescante, já que também auxiliam no controle do calor/fogo gerado na maioria das síndromes do Fígado. Já as plantas que apresentam o sabor amornante/quente são mais indicadas no tratamento das síndromes do Fígado por deficiência, ou seja, na deficiência de Xue/Yin do Fígado (única síndrome por deficiência do Fígado).

Outra característica observada nas plantas brasileiras mais utilizadas nas síndromes do Fígado é que a maioria possui uma forte ação no útero e portanto, é contra-indicada na gravidez. Como a descida do sangue para o útero depende do livre fluxo do QI (controlado pelo Fígado), quando este estiver obstruído irá gerar muitos problemas menstruais, tais como dismenorréia, TPM, etc. Isso explica o porque de várias plantas serem contra-indicadas na gravidez, uma vez que para elas serem efetivas nos tratamentos do Fígado, irão atuar também no útero da mulher, ou seja, o Fígado também exerce ação fundamental na fisiologia da mulher. Outro aspecto importante a ser observado no sabor amargo presente na maioria das plantas para o tratamento de distúrbios do Fígado é a sua ação em secar líquidos/ fluidos e portanto, contra-indicado na lactação, uma vez que para o leite ser gerado é necessário uma adequada formação de fluidos Yin.

As propriedades digestivas atribuídas às plantas brasileiras indicadas no tratamento das síndromes do Fígado se explica também através da sua ação de controle no ciclo Ko (de controle) sobre o Baço/Pâncreas, o qual é responsável por uma digestão eficiente no organismo. Além disso, de acordo com o ciclo de geração dos cinco elementos, o sabor amargo tonifica a energia do elemento Terra (Baço/Pâncreas e Estômago) por ser o sabor do elemento Fogo, que é mãe de Terra, e de acordo com a técnica dos pontos Shu antigos, para tonificar um elemento, tonifica-se a mãe dele.

Nas fórmulas Chinesas há sempre uma combinação de plantas e de vários sabores em uma mesma fórmula para que esta seja equilibrada. No entanto, um sabor é sempre reforçado para corresponder à principal função da fórmula. Neste sentido, o principal sabor presente será também o amargo por razões já discutidas acima.

Foi notado no decorrer do trabalho, a falta de bibliografia sobre plantas medicinais Brasileiras usadas através da abordagem da Medicina Chinesa. Os poucos livros que fazem a relação entre os dois tipos de fitoterapia não se referem exclusivamente a espécies nativas brasileiras, mas sim a plantas introduzidas na flora do nosso país e/ou a fitoterápicos importados.

5. CONCLUSÃO
Após a pesquisa realizada neste trabalho, pode-se concluir que as plantas medicinais utilizadas na fitoterapia Brasileira aplicadas às patologias do fígado do ponto de vista ocidental, também são benéficas às síndromes do Fígado segundo a visão da MTC. Isso ocorre pelas razões já discutidas anteriormente.

Além de facilitar o emprego das fórmulas magistrais chinesas no tratamento das síndromes do Fígado, este trabalho também pode trazer benefícios à pratica clínica de profissionais da Medicina Chinesa e da fitoterapia tradicional Brasileira, pois sugere o uso de plantas mais facilmente encontradas tanto na natureza quanto no comércio do país, sendo uma alternativa mais barata do que os fitoterápicos chineses, produzidos apenas no exterior.

Devido a escassez de material bibliográfico e de estudos relacionando os conceitos e a prática da fitoterapia chinesa com a brasileira para o tratamento de várias síndromes energéticas, pode-se concluir também a necessidade de outros estudos complementares para se obter resultados ainda mais satisfatórios com a fitoterapia no Brasil.

Adaptado por Profª Brena de O. B. Montanha.

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