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A Técnica do Shu Antigo para o Tratamento de Zumbido

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Serena Canazza Corrêa

Monografia apresentada para obtenção do título de especialista em acupuntura CETN – Campinas 2015.

1- INTRODUÇÃO

Enquanto na Medicina Ocidental o zumbido pode ser difícil de ser tratado e raramente apresente melhora, a Medicina Tradicional Chinesa oferece muitos tratamentos, muito mais eficazes, a base de plantas medicinais ou acupuntura, superando o uso de drogas e outras modalidades terapêuticas. A acupuntura pode ser um ótimo tratamento para este mal, pois irá tratar a raiz do problema (WEN, 1985).

Segundo a teoria dos cinco elementos, a qual será tratada a seguir, temos cinco elementos básicos que formam o mundo com base na filosofia da Medicina Tradicional Chinesa. Dentro de cada elemento temos órgãos, vísceras e outras categorias. Há conexões estabelecidas entre os órgãos e vísceras e entre os órgãos sensoriais do corpo de forma que qualquer distúrbio em algum destes órgãos poderá refletir nos órgãos do sentido ou vice-versa (MACIOCIA, 1996).

O ouvido faz parte da categoria “órgãos do sentido” dentro do elemento Água e o órgão relacionado com este elemento é o Rim. Desta forma, em geral, o zumbido vem associado à Síndromes Energéticas ligadas a este órgão.

Assim sendo, é o Rim que rege os ouvidos por ser o órgão, dentro do mesmo elemento, que se liga aos ouvidos. Na Medicina Tradicional Chinesa afirma-se que o Rim abre-se nos ouvidos. A falta de energia, aqui chamada de Qi, e o desequilíbrio deste órgão resulta em sintomas clínicos e um deles é o zumbido. Desta forma, podemos afirmar que o zumbido é resultado da deficiência de Qi (energia) do Rim e do desequilíbrio deste Órgão. Para se tratar o zumbido, dentro da medicina oriental, é necessário “nutrir”, dar mais energia aos rins.

A acupuntura, e mais especificamente, a técnica do Shu Antigo, age em todo Sistema Nervoso, estimulando mecanismos de compensação e equilíbrio em todo corpo e, por consequência, a doença poderá ser sanada, ao contrário da medicina ocidental que visa apensas tratar o local comprometido no corpo, por isso este tratamento é aqui sugerido.

As diversas funções do corpo humano estão inter-relacionadas e se algum órgão estiver com um distúrbio, além de manifestar a doença poderá afetar outros órgãos. Pos isso a escolha desta técnica, o Shu Antigo atua normalizando as funções orgânicas do ser humano.

De forma que o zumbido não é, no caso detectado com a paciente em estudo, um mal causado por agentes externos. A técnica do Shu Antigo se torna interessante, pois trata da circulação e harmonização de Energia, tonificação e sedação dos Meridianos Principais, Órgãos e Vísceras, e no tratamento das afecções energéticas, funcionais e orgânicas pertinentes (YAMAMURA, 2001).

2 OBJETIVO

O objetivo geral desta pesquisa é provar o quanto a técnica Shu Antigo da acupuntura pode ser benéfica no tratamento do zumbido.

3 METODOLOGIA

3.1 TIPO DE PESQUISA

Esta é uma pesquisa qualitativa (GIL, 1996), exploratória, descritiva e experimental (GIL, 2007). A pesquisa será realizada através de um estudo de caso.

3.2 ESTUDO DE CASO

O estudo de caso foi realizado com uma mulher de 53 anos. Para detalhar o estudo foi aplicado um questionário.

Essa paciente sofre do zumbido há mais de dez anos. Já fez tratamento com medicamentos alopáticos, porém relatou que nunca se adaptou a nenhum desses medicamentos e por isso acabou desistindo de qualquer tratamento.

3.3 MATERIAIS UTILIZADOS 

Algodão e álcool setenta por cento para assepsia do local que foram aplicadas as agulhas. 

Agulhas tamanh0 25×30 para aplicação da técnica.

3.4 PROTOCOLO TERAPÊUTICO

Antes de iniciar o tratamento, foi aplicado a paciente um questionário a fim de conhecer a história da paciente, assim como conhecer seus gostos e preferências para chegar a um diagnóstico energético correto e aplicar a técnica mais precisamente, e assim conhecer a história da doença da paciente. Posteriormente foi realizado o diagnóstico energético.

Neste mesmo momento, foi realizada a inspeção na paciente, observando o aspecto geral do corpo, a língua e o pulso como auxiliares na finalização do diagnóstico energético.

3.4.1 Diagnóstico energético

O diagnóstico realizado foi realizado através dos oito critérios e baseado nas Síndromes das Substâncias Fundamentais e nas Síndromes do Zang Fu.

3.4.1.1 Oito critérios

Pelos oito critérios, percebemos que a doença da paciente é de natureza Interna, pois, conforme AUTEROCHE, NAVAILH, 1995 pg. 244, a enfermidade se caracteriza-se como Síndromes externas, chamadas pelos autores de Biao (termo chinês para síndromes externas) quando “a doença está localizada ao nível da pele, da epiderme ou do derma”, que não é o caso da enfermidade da paciente do estudo que é o zumbido.

Através da inspeção e do questionário, podemos concluir que a enfermidade da paciente aqui tratada se enquadra na categoria como doença de natureza Frio-Vazio, pois muitos de seus sintomas relatados estão caracterizados neste perfil como temor ao frio, face pálida, sudorese e língua com saburra branca.

Conforme a inspeção e a observação do questionário respondido pela paciente, também chegamos à conclusão que ela sofre de uma doença de natureza de Deficiência, pois a maioria de seus sintomas se encaixam neste princípios como face pálida, desejo de ingerir líquidos quentes, pouca sudorese e pulso fraco.

Como já citado anteriormente, Yin/Yang é o princípio geral dos outros seis elementos. A doença Yin se caracteriza por evoluir crônica e lentamente, não produz ameaça a vida e tem difícil tratamento a longo prazo como o zumbido aqui tratado no estudo de caso.

3.4.1.2 Síndrome das Substâncias Fundamentais

Como Síndrome das Substâncias Fundamentais, podemos concluir que a paciente apresenta Xue estagnado, devido aos inúmeros problemas na parte ginecológica, mas não podemos concluir que esta síndrome tenha relação direta com o zumbido, doença aqui a ser tratada.

3.4.1.3 Síndromes do Zang Fu

Conforme os sintomas relatados pela paciente, conseguimos concluir que ela possuiu a deficiência de Yin do Rim, pois essa síndrome apresenta maior características de sinais e sintomas relatados pela paciente sendo o próprio zumbido um sinal desta síndrome.

3.4.1.4 Diagnóstico Energético aplicado a técnica do Shu Antigo

Através das conclusões de diagnóstico aqui apresentadas, devemos, primeiramente, identificar qual o Órgão/Víscera da paciente que está em maior desarmonia. Essa identificação é feita através de todo exame realizado no diagnóstico, desde o questionário, através do relato de história de outras doenças e do início do zumbido relatados pela paciente e também pelos exames de inspeção, palpação e exame áudio-olfativo que já foram explicados anteriormente.

A identificação do Órgão/Víscera afetado é fundamental para esta técnica, pois, a partir daí iremos procurar na mandala dos cinco elementos qual o órgão/víscera que deverá ser tonificado ou sedado para a escolha dos pontos.

A paciente aqui tratada relata diversas doenças antecedentes e, inclusive, uma nefrite, que é a inflamação nos rins, quando criança. Também através do questionário aplicado, conclui-se que a doença aqui tratada, o zumbido, pode ter ligação com o momento emocional que a paciente passava quando este mal começou a se manifestar, ela passava por um período de medo, pois seu pai estava internado.

Além de todas essas evidências, temos que levar em conta, principalmente, que, conforme já citado anteriormente, o ouvido está ligado ao Rim através da teoria dos cinco elementos. Na Medicina Chinesa, o Rim abre-se nos ouvidos. Dentro do elemento Água, órgão é o Rim e o órgão dos sentidos é o ouvido e o sentimento relacionado o medo.

Por tudo o que foi aqui apresentado, podemos concluir que o órgão mais afetado para o desenvolvimento do mal do zumbido nesta paciente é o Rim e que ele está em deficiência, ou seja, não tem seu funcionamento em equilíbrio. Desta forma, devemos escolher o elemento Água para aplicar a técnica.

E através dos exames de palpação e áudio-olfativo, observamos que a paciente apresenta face pálida, língua pálida e pulso fraco, o que caracteriza uma síndrome por deficiência. Por essas características da paciente, concluímos que esta paciente tem uma síndrome de deficiência.
Assim, além de concluir que o órgão mais afetado é o Rim, podemos também afirmar que ele está em deficiência e que para tratarmos a paciente deveremos tonificar este órgão.

4.4.2 Seleção dos pontos

Como no caso de estudo aqui apresentado, precisamos fortalecer um elemento que está enfraquecido, que é o elemento Água. Conforme o Ciclo Shen, ou ciclo de Geração, devemos tonificar a mãe, já que o filho está enfraquecido (YAMAMURA,2001). O elemento mãe do elemento Água é o Metal e o órgão relacionado a este elemento é o pulmão.

Para tonificar o Rim, devemos tonificar o ponto elemento mãe no próprio meridiano que ao procurarmos na tabela encontramos o ponto R7. E também devemos procurar na tabela 2 o elemento do meridiano da própria mãe que é o P8 e tonificar este ponto também.

O ponto R7 localiza-se 2 cun diretamente acima de R3, na face anterior no tendão calcâneo. O P8 localiza-se a 1 cun acima da prega do punha na face anterior do antebraço

Esta técnica é aplicada usando os pontos bilateralmente, ou seja, do lado esquerdo e direito da paciente, aplicando ao todo quatro agulhas.

4.4.3 Tratamento

Foram realizadas sessões duas vezes por semana do dia 01/04/2014 ao dia 10/06/2014 totalizando 20 sessões. As sessões acontecerem na residência da paciente.

Inicialmente foram identificados os pontos R7 e P8 com auxílio de um atlas de acupuntura e feita a assepsia no local dos pontos. Assim foram aplicadas quatro agulhas, R7 direito e R7 esquerdo e P8 direito e P8 esquerdo em tonificação. Aguardou-se um tempo mínimo de vinte minutos e as agulhas foram retiradas.

Ao final de cada sessão era perguntado à paciente qual o nível do zumbido que a incomodava naquela sessão.

4 RESULTADO

Sempre no final da sessão era questionado à paciente qual o nível de incomodo do zumbido naquele momento tendo como referência uma escala de 1 a 10.

Na primeira sessão, dia 01/04/2014, a paciente relatou sentir o zumbido estar muito forte, e que nesta escala daria a 10 dentro da escala. Nas semanas posteriores, a paciente relatou o mesmo número de incomodo dentro da escala com nível 8. Somente na última sessão, dia 10/06/2014, é que a paciente relatou que seu zumbido estava no nível 6.

5 DISCUSSÃO

Segundo pesquisa do National Institutes of Health, publicada em 1996, o zumbido afeta 15% dos americanos. Porém, uma pesquisa mais recente feita pelo Departamento de Otorrinolaringologia e da Enfermaria de Olhos e Ouvidos de Massachussets publicada pelo American Journal of Medicine aponta que 25% da população sofre com o zumbido. Já no Brasil, acredita-se que 28 milhões de pessoas sofra deste mal, tornando o zumbido um problema se saúde pública (SANCHEZ et al., 2002).

O zumbido é considerado o terceiro pior problema que pode acometer o ser humano, segundo pesquisa publicada pela Health Agency of America em 1984/85. E a qualidade de vida dessas pessoas é prejudicada pois esse mal vem associado com outros sintomas como tontura, vertigens, intolerância a sons e até perda aditiva (SANCHEZ et al., 1997).

A primeira e maior dificuldade encontrada para se tratar um paciente com zumbido é que a percepção do mesmo só pode ser observada pelo próprio paciente (SANCHEZ et al., 1997).

5.1 ZUMBIDO E O SHU ANTIGO

A acupuntura, contrário a medicina ocidental, tenta tratar a doença procurando dissolver o mal pela raiz. Por isso pode ser muito mais eficiente no tratamento de certas doenças difícil de tratar como o zumbido.

Dentro da Medicina Tradicional Chinesa, o Rim tem como função principal armazenar a essência vital. Na Medicina Tradicional Chinesa, os rins regem a audição, pois os rins abrem-se nos ouvidos (MACIOCIA, 1996).

Para um tratamento eficiente do zumbido na acupuntura é primeiro necessário tratar o órgão que causa a doença, no caso o Rim.

O Shu Antigo é uma das inúmeras técnicas existentes na acupuntura. Não foram encontrados artigos que relacionavam um assunto com outro, o zumbido e a técnica Shu Antigo, por isso não havia comprovações se essa técnica seria realmente eficiente para tratar essa doença.

Esta técnica foi escolhida para tratar a paciente no nosso estudo de caso, pois o Shu Antigo trata justamente de doenças internas, trata os canais de energia e normaliza as funções orgânicas, o que se enquadra nas necessidades da paciente.

6 CONCLUSÃO

Através dos relatos da paciente ao final de cada sessão, , observa-se que ela tinha um zumbido muito forte, porém logo na segunda sessão houve diminuição do zumbido. Mas, para se ter uma nova diminuição do zumbido foram necessárias mais 18 sessões, só na última sessão é que a paciente relatou uma nova melhora.

Com base nos resultados coletados, pode-se, então, concluir que a técnica do Shu Antigo da Acupuntura pode ser bastante eficaz no tratamento do zumbido, porém seu tratamento deve ser feito a longo prazo, pois o resultado mais importante só foi obtido após várias sessões, apesar de já se ter um resultado inicial significativo.

O que também foi observado, com base neste estudo, é que o Shu Antigo é uma técnica bastante conhecida, porém pouco utilizada. Por isso é que não havia evidências da eficácia desta técnica por estudos teóricos.

Este trabalho teve justamente o objetivo de comprovar a eficácia desta técnica principalmente em relação ao zumbido que é uma doença difícil de ser tratada por ser apenas percebida pelo paciente e, assim, a incapacidade de inferi-lo objetivamente (SANCHEZ et al., 1997).

A técnica do Shu Antigo pode ser considerada de difícil compreensão, porém sua aplicação é fácil e, como pudemos observar com esse estudo, e é bastante eficiente, com resultados rápidos, mesmo se tratando de sanar uma doença de difícil tratamento como o zumbido.

Desta forma, melhoramos também a qualidade de vida da paciente, pois é um transtorno que produz extremo desconforto, e que pode gerar inúmeras consequências se não tratado, chegando até a exclusão da pessoa que sofre esse mal do convívio social (HERRÁIZ et al., 2001).

Orientado por profa Luciana Vinagre, adaptado por profa. Brena Montanha.

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