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Tratamento de tenossinovite do 4º compartimento através da MTC.

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Artigo baseado no TCC das alunas Ana Flávia F. Julio e Sabrina C.T. Camargo, da pós graduação em Acupuntura do CETN.

Tenossinovite é uma tendinite (inflamação de um tendão, que se desenvolve após uma tendinopatia) com inflamação do revestimento da bainha do tendão. Os sintomas frequentemente incluem dor ao movimento e sensibilidade à palpação. Deterioração ou inflamação crônica do tendão ou da bainha do tendão pode causar cicatrizes que restringem o movimento. O diagnóstico ocidental é clínico, às vezes complementado por exames de imagem. O tratamento inclui repouso e em alguns casos, infiltrações de corticóides. Dorsalmente existem seis compartimentos extensores do punho:

1.       O primeiro compartimento, que é sobre o processo de estilóide do rádio, contém o adutor longo do polegar e o extensor curto do polegar. A tenossinovite estenosante desse compartimento é denominada doença de “de Quervain”.

2.       O segundo compartimento contém os dois extensores radiais do punho, o extensor radial longo e curto do carpo.

3.       O terceiro compartimento contém o extensor longo do polegar.

4.       O quarto compartimento contém o extensor comum dos dedos e o extensor próprio do indicador.

5.       O quinto compartimento contém o extensor do dedo mínimo.

6.       O sexto compartimento contém o extensor ulnar do carpo.

Para a Medicina tradicional chinesa (MTC) as tendinites ou tenossinovites são denominadas Síndrome Bi ou Síndrome de Obstrução Dolorosa. Essa síndrome é uma patologia que acomete os meridianos (canais de energia) devido à obstrução de QI ou XUE nesses canais, o que resulta em dor, hipersensibilidade ao toque, limitação de movimento, edemas e outros sintomas.

Um dos Medianos que passam pelo punho é o IG (Intestino Grosso) e possui natureza Yang.   Quando acometidos por causas externas, como movimentos repetitivos, tensão, traumas ou invasão de energias perversas, Xie Qi, e estagnação de Qi e de Xue, provocam um quadro de dor, calor, vermelhidão e inchaço.

 Na Medicina Tradicional Chinesa (MTC), a Síndrome de Obstrução Dolorosa é também denominada Síndrome Bi. Bi é o ideograma chinês que significa obstrução. Sendo assim, Síndrome de Obstrução Dolorosa indica dor, sensibilidade ou formigamento dos músculos, tendões e juntas, devido à invasão externa de vento, frio ou umidade. É a mais comum entre todas as doenças, afetando praticamente todos os indivíduos em algum momento da vida, em todas as partes do mundo. Proveniente de exposição a fatores climáticos é provavelmente uma das mais antigas aflições da espécie humana.  A invasão do fator patogênico exógeno provoca a obstrução da energia e do sangue, que ocasiona as síndromes dolorosas, intumescimentos e sensação de peso nos membros e nas articulações, que se tornam difíceis de estender e flexionar. Este conjunto de sintomas é denominado de síndrome Bi, sendo observada na febre reumática, na artrite e nas nevralgias.

ESTUDO DE CASO: Paciente do sexo masculino, 31 anos, bancário, destro. Tem como queixa principal: dor em punho direito. Refere dor na face radial do punho há cerca de um ano e meio, que piora com movimento (sensação de “fadiga muscular”, perca de tônus), e melhora com alongamentos e exercícios de fortalecimento da região de antebraço. Em abril de 2018 fez uma ultrassonografia, que diagnosticou uma tenossinovite do quarto compartimento extensor. Iniciou tratamento com AINES (antinflamatórios não esteróides) e analgésicos durante 10 dias consecutivos. Em uso da medicação, houve melhora da dor, porém ao retornar as suas atividades normais de trabalho o quadro voltou a se repetir. O paciente passou a fazer exercícios de fortalecimento na região de antebraço, com acompanhamento de um educador físico, e sentiu uma melhora relativa do quadro. após um ano do diagnóstico e fazendo os exercícios, o paciente busca uma melhor qualidade de vida, já que o trabalho com movimentos repetitivos de digitação (bancário) o incomoda diariamente.

Diagnóstico pela MTC: Substâncias Fundamentais: Deficiência XI e XUE e Síndromes Zang Fu: Deficiência de Yin de Rim, Deficiência XUE do Fígado e Deficiência de QI.

Nesse estudo de caso foram realizadas 10 sessões de acupuntura, uma vez por semana com duração de trinta minutos cada. Os exercícios de fortalecimento muscular foram realizados de segunda à sexta-feira, com supervisão de um profissional de Educação física, com duração de aproximadamente duas horas por dia. O educador físico abordou não somente o fortalecimento do membro superior em questão, mas o corpo físico como um todo.

Foram utilizadas agulhas descartáveis 0,25×30 e moxa de Artemísia para acupuntura sistêmica e semente de mostarda para acupuntura auricular.

A Técnica Local Distante foi escolhida para alívio da dor e promoção do livre fluxo do Qi, com aplicação de moxa para remoção dos bloqueios energéticos que obstruíram o meridiano do IG. Os pontos utilizados para o tratamento sistêmico na acupuntura foram: TA4, IG5, ID5, ID4, CS7, BP6 e P9.

A moxa de Artemísia local foi utilizada nas três primeiras sessões, para eliminação do frio patogênico. Posteriormente ao alívio dos sintomas de dor, a técnica de moxabustaão foi utilizada novamente, mas desta vez para fortalecer a energia de defesa (Wei Qi) do paciente (ponto BP6 com aplicação de moxa associado ao ponto P9).

Na região auricular os pontos utilizados foram: Shen Men, Rim, Simpático, Ombro, Cotovelo e Punho do lado direito.

TRATAMENTO:

1ª à 3ª sessão: Agulhamento dos pontos sistêmicos TA4, IG5, ID5, ID4 e CS7 unilateral (direito) com moxa de Artemísia no local de maior dor (IG5). Auriculoterapia: Ponto Shen Men, Rim, Simpático, Ombro, Cotovelo e Punho (lado direito – relativo ao lado da obstrução energética).

Com relação à sensibilidade a dor, o paciente relatou grau 6 (escala EVA) no início do tratamento, e grau 2 ao final das três primeiras sessões. Também relatou ter tido melhora na qualidade do sono, pois já não acordava mais durante a noite quando “dormia em cima do braço direito” e despertava com o incômodo da dor no membro.

4ª à 7ª sessão: Agulhamento dos pontos sistêmicos TA4, IG5, ID5, ID4 e CS7 unilateral (direito), agora sem aplicação de moxabustão (paciente relatou ausência de dor). Auriculoterapia: Shen Men, Rim, Simpático, Ombro, Cotovelo e Punho (lado direito – relativo ao lado da obstução energética).

Paciente com ausência de dor. Os pontos de tratamento das primeiras sessões foram mantidos.

8ª à 10ª sessão: Paciente sem queixa de dor. Agulhamento do ponto BP6 com aplicação de moxa de Artemísia em associação com P9, bilateral. A escolha dos pontos foi feita na intenção de fortalecer a energia de defesa do paciente para evitar nova invasão de fator patogênico.

Resultado: A associação da acupuntura com o fortalecimento muscular para o tratamento da tendinite foi benéfica, onde pela escala EVA, o paciente relatou uma melhora significativa e satisfação com o tratamento oferecido.

O tratamento reduziu a intensidade da dor, tonificando QI e XUE no meridiano de IG, melhorou a capacidade de amplitude de movimentos, capacidade funcional, qualidade de vida, saúde física, mental e emocional.

AUTORA DO ARTIGO: Carla Ceppo

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