#vemprocetn

Eficácia da acupuntura na cicatrização de úlcera venosa: Estudo de caso

< voltar

SOLANGE FARIAS RIBEIRO
Monografia apresentada ao CETN- Campinas 2012.

1- INTRODUÇÃO

As úlceras venosas representam um significativo impacto social e econômico devido ao seu caráter recorrente e o longo tempo necessário à sua cicatrização. A insuficiência venosa acarreta uma série de alterações físicas que ocorrem principalmente nos membros inferiores devido à hipertensão ou obstrução venosa. Este estudo aborda um tratamento de úlcera venosa, através do método de acupuntura, combinado com outros tratamentos, com o objetivo de avaliar a eficácia da acupuntura na cicatrização da úlcera venosa – relato de caso. Os resultados satisfatórios à terapêutica em questão, com redução da lesão, cicatrização eficaz e diminuição do edema.

Na Medicina Tradicional Chinesa, a úlcera venosa aparece quando existe Estagnação de Qi e do Xue (Sangue) ocasionado pelo Vazio de Qi e de Xue e que pode ter origem na Deficiência do Gan (Fígado), cuja função de direcionamento do Xue fica comprometida, ou por doenças crônicas debilitantes ou, por desaparecimento de Qi.

O enfermeiro utiliza vários recursos para a realização do tratamento das úlceras venosas, contudo, os fitoterápicos vêm sendo, ultimamente, muito usados. As terapias alternativas, segundo Nogueira, vêm de encontro com uma visão holística que o enfermeiro vem aprimorando.

2- OBJETIVO

Diante do exposto, este trabalho tem como objetivo demonstrar que a terapia da acupuntura auxilia no processo de cicatrização da úlcera venosa, bem como implementá-la, como medida terapêutica, no processo de cicatrização.

3- METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa exploratória, descritiva e de campo, de caráter qualitativo, com o intuito de mostrar a evolução da proposta terapêutica no processo de cicatrização de úlcera venosa.
Local de estudo: domicílio/ambulatorial

População: Cliente portador de úlcera venosa crônica, com outras terapias. – relato de caso.
Instrumentos:

Ficha de avaliação (Anexo 2)

Composto por dados gerais de identificação: idade, sexo, grau de instrução, avaliação do cliente.

Procedimento: mediante a prévia autorização, por escrito do cliente, (Anexo 1), garantindo o anonimato, na utilização dos dados para a pesquisa e esclarecer sobre eventuais dúvidas durante o processo.

4- RESULTADOS

APRESENTAÇÃO DO CASO

1ª Sessão – 25 de janeiro de 2012
E. N. S., 66 anos, sexo feminino, natural de Castilho – São Paulo, pensionista.
Histórico: vítima de picada de inseto há cinco anos no MIE, evoluindo com uma ferida na face anterolateral da perna.
Antecedentes: Nega hipertensão. Apresenta veias varicosas em MMII. É diabética.
Queixa principal: ferida com secreção na perna, muita dor, desconforto e limitação das atividades.
Tratamentos anteriores: desbridamento cirúrgico há dois anos, tratamento tópico com papaína, dor, limpeza com sabão de barra e pomadas diversas.

REVISÃO DOS SISTEMAS

Neuromuscular: sem alterações
Musculoesquelético: atrofia dos músculos da panturrilha.
Cardiovascular: Pressão arterial – 120 x 80 mmHg, veias superficiais e tortuosas nas pernas e edema na perna esquerda.
CEAP (C6 = úlcera venosa aberta; ES = pós traumática)

DIAGNÓSTICO

Pele circundante: manchas de hemossiderina, escamosa, enduração e linfaedema.
Dados iniciais da ferida:
Comprimento x largura – 14 x 10 cm, plana.
Secreção: moderada, com odor fétido.
Forma: irregular.
Bordas: epibólicas
Temperatura: normal à palpação.
Tecido na ferida: negro – 5%; amarelo – 90%; vermelho – 5%.
Aspecto das unhas: onicocriptose
Prognóstico: tratamento prolongado até fechamento total da ferida.
Início do tratamento: 25 de janeiro de 2012, com consentimento livre esclarecido.
Língua: aumentada, pálida, levemente rosada, revestimento fino, apresentando, na raiz, coloração amarelo claro.
Pulso: Profundo

,
Imagem

Temperatura pé D e E: fria
Enchimento capilar D e E: normal
Pulso pedioso D e E: normal
Pulso tibial (A/P) D e E: normal

,
Imagem

Intervenções processuais: Desbridamento (gel CMC + alginato) – Cobertura carboximetil celulose em hidrofiber + prata
Freqüência: 3 a 5 dias
Repouso
Hidratação da pele
Orientação alimentar
Avaliação cirurgião vascular

Na Medicina Chinesa, o diagnóstico encontrado foi úlcera causada por umidade-calor, de predominância Yin.
Intervenção no dia 25/01/12: Foi realizada ao redor da lesão a colocação de agulhas, bem como a colocação de agulhas em alguns pontos sistêmicos.
Tonificar o Qi – VC17, P9, R3
Tonificar o Gan – F3
Estase de Xue – BP10
Circular o Qi – E36, BP6

2ª Sessão – 30 de janeiro
Após cinco dias, foi observado que o tecido amarelo e pontos necróticos havia sido desbridados.
Exame físico inalterado.
Optado pela mesma sequência dos pontos da sessão anterior.

,
Imagem

3ª Sessão – 06 de fevereiro
Percebem-se após sete dias da 2ª sessão, alguns pontos de epitelização. Mantendo a mesma sequência dos pontos da primeira sessão.

,
Imagem

4ª Sessão – 13 de fevereiro
Após dezenove dias do início do tratamento, observa-se o aumento da epitelização. Acrescentado o ponto IG 4. Mantido os pontos anteriores.

,
Imagem

5ª Sessão – 27 de fevereiro
Após trinta e três dias do início do tratamento, foi observada uma grande área de epitelização, com uma extensão de 12 x 10 cm, aumento de exsudato e diminuição evidente do edema. Ou seja, houve diminuição da lesão, com uma boa área com tecido de granulação, apresentando, ainda, exsudato.
Optado por: circular o Qi, utilizando os seguintes pontos: P 7, IG 4, E 36, BP 6, C 7, B 60, CS 6, TA 5, VB 41, F 3; e dispersar o calor com IG 4, IG11 e VC 14. Além de circundar a lesão.
Curativo feito com cobertura absorvente de espuma com prata + terapia compressiva elástica.

,
Imagem

6ª Sessão – 07 de março
Após quarenta e dois dias, toda lesão está coberta de tecido de granulação. As trocas tornaram-se mais freqüentes. Os pontos de acupuntura foram mantidos da última sessão.

,
Imagem

7ª Sessão – 12 de março
Foi observado que houve uma diminuição da lesão, (9 x 7 cm). O exsudato também diminuiu. Curativo mantido. Pontos mantidos da última sessão.

,
Imagem

Imprevisto
No dia dezesseis de março, E.N.S. foi hospitalizada, em decorrência de um Infarto Agudo do Miocárdio. Como tratamento: trombólise com Actylise. Evolui instável hemodinamicamente. Realizou cateterismo cardíaco em 26 deste, sendo submetida à Revascularização do Miocárdio em três de abril. Evolui com complicações no pós-operatório, vindo a falecer no dia 12 de abril.
Durante o período de internação, os curativos eram realizados, mas as sessões de acupuntura não foram autorizadas.

5- DISCUSSÃO

Borges (2005) afirma que para a cura da úlcera venosa é necessário a implementação de um cuidado que envolva a terapia compressiva e a terapia tópica. Na terapia tópica devem ser utilizadas coberturas capazes de absorver o exsudato e criar um ambiente favorável para o desenvolvimento do processo de cicatrização.

O tratamento tópico efetivo requer a seleção e aplicação adequada de coberturas específicas que atenda as peculiaridades dos diversos tipos de feridas. É fundamental que o profissional conheça as diversas coberturas disponíveis, utilizando-as como complementação do tratamento adequado.

Antes da utilização de qualquer cobertura é necessário avaliar as características da ferida, se requer desbridamento, se existe presença de infecção, se há espaço que precisa ser preenchido e a presença volumosa de exsudato. Deve ser dada atenção especial as feridas em que haja a exposição de tendão ou óssea, uma vez que é imprescindível a manutenção dessas estruturas em meio úmido para preservar a integridade e funções.

Algumas coberturas indicadas são a placa de hidrocolóide, o alginato de cálcio, hidrogel, espuma de poliuretano com prata. Os hidrocolóides são indicados para feridas independente de possuir ou não tecido necrótico, com quantidade de exsudato mínima ou moderada, consistem em uma massa flexível com face interna aderente composta de polímeros hidrofílicos, como carboximetilcelulose – CMC, gelatina e pectina em uma Matriz hidrofóbica, a camada externa é constituída de espuma ou filme de poliuretano permeável ao vapor. As coberturas de hidrocolóides mantêm as células viáveis além de estimular a ação dos macrófagos que se tornam aptos para a fagocitose e a liberação de fatores de crescimento de fibroblastos.

Dentre os benefícios obtidos com a utilização da placa de hidrocolóide estão a angiogênese, em decorrência da hipóxia no leito da ferida; absorção do excesso de exsudato, além de manter a umidade, proporcionar alívio da dor, manter a temperatura em torno de 37ºC ideal para o crescimento celular, promovendo o desbridamento autolítico. Sua permanência está vinculada ao volume de exsudato da ferida, podendo permanecer aderida em torno de sete dias.

O alginato de cálcio é composto por fibras naturais de alginato de cálcio e sódio e derivados de algas marinhas marrons. Indicado para feridas com moderado a muito exsudato. Auxilia o desbridamento autolítico e fazer a hemostase. O alginato pode permanecer no leito da ferida por até cinco dias sem ser trocado até a sua saturação.

A cobertura de prata pode ser utilizada em feridas infectadas exsudativas, com ou sem odor. Deve ser trocado em até 24 horas, podendo ser trocado em 48 ou 72 horas. Tipo de cobertura primária requer uma cobertura secundária. Suas funções são: absorção de exsudato, microbicida, eliminador de odores desagradáveis, desbridamento autolítico e manutenção da temperatura em torno de 37ºC.

A associação do tratamento da acupuntura à úlcera venosa teve a finalidade de equilibrar as funções dos órgãos. Em alguns momentos, foi necessária a tonificação, sedação e punturação no sentido do meridiano. Após a inserção das agulhas, foi necessário repouso por um tempo aproximado de trinta minutos.

No início do tratamento a lesão apresentava 14 x 10 cm e após quarenta e sete dias, reduziu para 9 x 7 cm. Entretanto não aconteceu o fechamento da lesão em decorrência do imprevisto.

6- CONCLUSÃO

A acupuntura comprovou a eficiência de tratamento alternativo à medicina convencional. A melhora no aspecto da lesão, com formação de tecido de epitelização, edema e dor ficou bem evidente. É notável o avanço na produção de conhecimentos sobre o cuidado prestado. O cuidado deve ser baseado no princípio da integralidade em detrimento de uma abordagem apenas curativa, o profissional deve fornecer orientações para o cuidado, uma vez que o cliente tem papel importante no controle da cicatrização da ferida e no controle da hipertensão venosa.
Acredita-se que o tratamento da úlcera venosa poderia levar mais tempo, porém isto não foi possível. Mas com sete sessões, totalizando quarenta e sete dias, a lesão apresentou uma redução bastante significativa.

Orientado por Luciana Vinagre, adaptado por Brena Montanha.

whats app