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Contribuição da cromoterapia para acupuntura em cães – Relatos de casos

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Regina Suplicy Vianna

Artigo elaborado baseado em partes do Trabalho de Conclusão de Curso, Autora do artigo: Profa. Larissa A. Bachir – CETN

MATERIAL E MÉTODO

Para desenvolver o presente trabalho utilizamos cães portadores de afecções na coluna vertebral, atendidos na região da Granja Viana, Cotia. Destes animais foram anotados dados gerais relativos à raça, sexo, idade, peso, diagnóstico e tempo de evolução da afecção.

Nos animais com crise aguda de dor na coluna vertebral e deficiência neurológica foi aplicada acupuntura duas vezes por semana nas duas primeiras semanas e medicados com prednisolona 0,5 – 1,0 mg/kg a cada 12 horas por sete dias e depois a cada 12 horas mais sete dias, diminuindo gradativamente a dose, e dipirona 25 mg/kg a cada 8 horas, conforme a intensidade da dor. A freqüência da sessão de acupuntura ficou semanal, por 30 dias ou mais, quando necessário.

Alguns destes animais foram tratados apenas com a técnica de acupuntura com inserção de agulhas e moxa, em outros foi associada à técnica de cromoterapia e cromopuntura.

Para todos os cães foi recomendado repouso, evitar escada ou subir em móveis, tipo cama ou sofá. Nos animais portadores de paralisia com falta de controle dos esfíncteres, foi solicitada dieta laxativa, esvaziamento da bexiga a cada 8 a 12 horas e antibiótico terapia, quando apresentasse infecção urinária ou lesões de pele devido ao atrito.

Os pontos de acupuntura foram selecionados baseados no diagnóstico da MTC e efeito energético dos pontos.

A eletro acupuntura foi aplicada com o aparelho Huato no modo denso-disperso com freqüência alta de 20-100 Hz por 5 minutos para sedar a dor e freqüência de 2-10 Hz por 20 minutos para tonificar nos quadros de paralisia. Foi aplicada de forma descendente, ou seja, do ponto inicial de dor na coluna, movendo os eletrodos até a extremidade dos dígitos dos membros acometidos por paralisia.

A moxa foi usada em forma de bastão para fazer varredura sobre a região da coluna vertebral nos animais com muita dor e sobre VG4, nos casos de deficiência de yang do rim.

A cromoterapia com a cor azul foi aplicada com a caneta em forma de varredura sobre a cabeça e coluna vertebral e a cromopuntura foi feita com a cor laranja sobre pontos distais, para estimular suas funções, quando o animal não permitia agulhar estes acupontos.

PONTOS UTILIZADOS

RELATO DE CASOS

NINA, Teckel, 6 anos

16 agosto 2009 – refere ter pseudociese, e após ter recebido a aplicação de uma injeção (há 5 dias), parou de andar. Levou ao veterinário, que medicou com Duotril, carproflan 25 mg e meticortem 5 mg. O animal procura locais quentes para dormir. Alimentação é ração comum para raças pequenas. Ao exame clínico observou-se ausência de propriocepção nos membros posteriores, falta de sensibilidade profunda, dor e tensão muscular na palpação da coluna região torácica e lombar, reflexo de esfíncter anal presente e atrofia muscular nos membros pélvicos. O exame radiográfico mostrou diminuição de espaço intervertebral entre T9-10, T10-11, T11-12.
Diagnóstico energético: deficiência do yin do Rim, estagnação de Qi e xue (pseudociese), com deficiência de Baço.
Pontos utilizados: yintan, B20, B23, B25, VB34, B40, B60-R3, BP6, F3 e BAXIE.
Foi colocado eletro acupuntura descendente para tonificar, ligando os pontos B20-23; B25-VB34 por 10 minutos e depois B23-25, VB34-R3 5 minutos e B25-VB34 e R3-bafeng mais 5 minutos.

dia 24 agosto animal estava inquieto, nervoso e não deixava agulhar.
Foi aplicada cromoterapia em círculos no sentido horário com a cor azul na região da cabeça e varredura sobre a coluna vertebral. Depois disto o animal se acalmou e permitiu a acupuntura, que foi aplicada em B18, B20, B23, R3-B60, VB30, VB34, BP6. Foi colocado eletro acupuntura descendente e feito varredura com moxa sobre a coluna vertebral. Animal já apresentava alguma sensibilidade nos membros pélvicos.

outubro 2009
Nina manteve sessões a cada 7-10 dias (31 agosto, 4, 9, 14, 21, 28 de setembro, 5, 16 e 28 de outubro). Já movimenta os membros espontaneamente, se apóia esporadicamente sobre uma das patas, porem a propriocepção está diminuída. Proprietário optou por parar o tratamento.

ELGA, Sem Raça Definida, 8 anos

Foi adotada da rua quando filhote, em Ilha Bela. Ficou com caseiro por duas semanas e quando a proprietária a reencontrou, a cachorrinha estava amedrontada e não gostava do rapaz. Foi castrada jovem, é boa de guarda, mas é medrosa. Vivia dentro de casa, muito amorosa e companheira. Alimentação é à base de ração e petiscos para cães. Há 3 anos começou a soltar urina as vezes, mas recentemente quando deita e relaxa, solta poças enormes de xixi, complicando sua estadia no interior da casa.

Ao exame clínico, animal dócil, região peri-vulvar umedecida, presença de dor lombar discreta.

Diagnóstico energético de deficiência yang do Rim, pois apresenta um problema funcional de esfíncter.

Foi feita acupuntura semanal com eletro acupuntura B23-B28, B60, BP3, R7, VG4, Bai Hui lombar (VG3), VG1-VC1.

No segundo encontro, proprietário refere não ter observado mudança. Foram aplicados os mesmos pontos e receitado Rescue com Walnut (floral de Bach). No terceiro encontro proprietário disse que Elga estava mais tranqüila, porem continuava soltando muita urina. Foi introduzida a cromoterapia com alinhamento dos chakras por quatro semanas e o animal conseguiu controlar melhor a função da bexiga.

PIETRA, Teckel, 8 anos

Animal foi castrado aos 5 meses de idade. Proprietária refere que em julho de 2009 a cachorra teve dermatite com muita coceira, foi medicada com uma injeção e apresentou reação alérgica muito forte, quase morreu e desde então tem problema respiratório. Há um mês apresentou dificuldade para se levantar com a pata da frente, ficou com o pescoço para frente e não se mantinha em estação. Está sendo medicada com prednisolona, mas continua com dor.

Fica dentro de casa, não tem escada. O chão é carpete de madeira. Come ração e foi acostumada a comer na mão. Personalidade tranqüila, mas tem muito medo de rojão e sofre de gastrite.

Na radiografia apresentou alteração morfológica, com as vértebras sacrais 1 e 2 não fusionadas. Tem C2-C3 com espondiloartrose anquilosante e diminuição de espaço intervertebral entre C3-C4, C4-C5, T3-T4, T11-T12, T13-L1, L1-L2, L3-L4, L4-L5. L6-L7. Opacificação de núcleo pulposo do disco intervertebral entre C5-C6, T12-T13, L1-L2, L7-S1. Opacificação do forame intervertebral entre C4-C5, C6-C7, T12-T13, L3-L4, L4-L5.

Diagnóstico energético: deficiência yin do Rim, com invasão de vento e estagnação de Qi.

Animal apreensivo, desconfiado, não parava quieto, toda musculatura tensa. Propriocepção diminuída nos membros traseiros. Não deixava ser manipulada, muito menos aplicar agulhas.

Foi feito cromoterapia, varredura com a cor azul sobre toda coluna vertebral e cabeça. Animal ficou mais calmo e foi agulhado. VG14, VB20, B11, B20, B23, B25, Bai Hui lombar, R3, VB34. Animal não permitiu agulhar ID3, então estimulamos com cromopuntura laranja no ID3 e IG4.

Na segunda sessão foi repetido o tratamento, porem colocou-se eletro acupuntura sedativa por 10 minutos na região B10-B11, B20-23 e B25-B40.

No terceiro encontro o dono achou que Pietra piorou após a ultima sessão, Repetimos o ultimo tratamento, mas tirou-se o estimulo elétrico e fez-se varredura na coluna com moxa.

Pietra está no oitavo encontro, mais amigável, já deixa agulhar pontos de extremidades, mas ainda recebe a cromoterapia azul na região de cabeça e coluna e cromopuntura com a cor laranja nos pontos distais.

KIKA, Poodle, 4 anos

Refere dificuldade para andar há 1 semana, Medicada com Azicox – L (antiinflamatório), uma cápsula ao dia sem melhora. Alimentação é ração e o temperamento é tranqüilo. É castrada, convive com um macho de 11 anos que tem o habito de ficar montando nela. A casinha dela fica em local aberto, frio e que pega bastante vento. Ao exame, animal obeso, com muita dor e tensão por toda região de coluna. Ausência de propriocepção nos membros pélvicos, sem dor profunda.

Na radiografia apresentou calcificação de disco intervertebral entre T11-T12, L2-L3, L3-L4 com protusão de disco intervertebral entre L2-L3.

Diagnóstico energético de deficiência yin do Rim, com invasão de vento-frio e estagnação de Qi.

No tratamento usou-se B11, B 20, B23, B25, B40, R3-B60, VB34, VG16, F3.

Kika ficava inquieta e foi aplicada cromoterapia azul para acalmá-la, com sucesso. A sessão foi realizada duas vezes por semana nos primeiros quinze dias e o animal voltou a andar. Recebeu mais quatro aplicações semanais e ficou muito bem.

LIZ, Teckel, 11 anos.

Proprietário refere que foi viajar e deixou a cachorra com a mãe, onde estranhou o ambiente e comeu demais. Parou de andar a poucos dias, medicou com antiinflamatório, mas sem melhora. Alimentação é ração.

Ao exame, animal era obeso, sem propriocepção nem dor nos membros torácicos e pélvicos. Assustada, medrosa, com incontinência urinária e tensão por toda a coluna vertebral. Vive em apartamento com chão liso e sobe em cama e sofá.

Diagnóstico energético: deficiência yin e yang do Rim.

No primeiro dia de tratamento foi feito cromoterapia azul sobre a coluna e cabeça, para acalmar o animal, que não permitia ser tocada e então deixou colocar as agulhas. Como o animal não sentia, nem mexia as patas dianteiras, não reagiu ao aplicar as agulhas nos pontos distais.

Os pontos usados foram ID3, IG4, B10, B11, B20, B23, VG4, BAIHUI lombar, R3-B60, VB34 E BAXIE.

Após três sessões o animal já estava andando. Fez mais quatro sessões semanais e teve alta.

ZIMBABUE, SRD, 4 anos

Refere que o animal tem crise de dor cervical há 1 ano, com piora no fim de outubro. Animal ativo, tranqüilo, convive com outro cão menor sem problema. É obediente, brincalhão, come bastante, adora frutas, adora entrar na água, principalmente no mar. Late muito no portão. Medicado com Arnica e citoneurim com pouca melhora.

Ao exame, animal tenso, pescoço rígido, língua rósea, com pouca saburra. Animal não deixou agulhar pescoço nem extremidade da pata dianteira. Foi feito cromoterapia azul na cabeça e coluna e depois foi agulhado nos pontos B11, B18, B20, B23, VB34, R3-B60 e cromopuntura no VB20, B10, ID3 e IG4. Após quatro sessões animal estava bem e foi viajar para a praia com os donos por 30 dias. Voltou da viagem com quadro de muita dor e retomou o tratamento. Após 3 sessões, o animal já está melhor e passou para sessões quinzenais.

DISCUSSÃO

Os animais portadores de um quadro agudo, frequentemente vinham encaminhado por outro clínico veterinário, que deixou a animal com tratamento medicamentoso. Embora alguns autores afirmem que o uso de corticóide diminua o efeito da acupuntura (JENSEN, 1988), estudos comprovaram que mesmo utilizando prednisolona, o tempo de retorno à locomoção dos animais sem capacidade da andar e presença de dor profunda foi reduzido.

Estes cães tiveram uma redução de até 50% do período de recuperação do quadro clínico de discopatia intervertebral toraco-lombares ao serem tratados com acupuntura, quando comparado com a evolução de animais tratados apenas com medicamentos, sem acupuntura, representando um estado neurológico superior (HAYASHI, 2006). Por este motivo, mantivemos a medicação e foi pedida uma redução gradual da dose durante o tratamento.

Os pontos selecionados variaram conforme o quadro clínico e diagnóstico pela acupuntura. Todos os animais tinham deficiência de rim e receberam acupuntura em R3 (Ponto mestre de rim e tonifica yin) e B23 (ponto Shu de Rim). Também VB34 (mestre de tendão e músculo) e B11 (mestre de ossos). Quando havia problema na região cervical, em geral com muita dor e tensão, usamos pontos locais B10, VB20 (dispersa vento, frio, relaxa o local), com IG4 (mestre da face, regula e tonifica wei qi, expele vento e liberta o exterior, restabelece yang qi, aumenta leucócitos) e ID3 (cervicalgia), com VG14 (sedar yang, promove calma generalizada, dispersa vento-calor da superfície, imunomodulação, cervicalgia) e/ou VG16 (dispersa vento, elimina espasmos). Nos animais com lesão na região lombar associamos B25 (ponto local para lombar), B40 (trabalha quadril). Quando animal estava muito apreensivo usamos VG20 (acalma shen), com muita dor aplicamos em F3 com E36 ou B60 (pontos que promovem analgesia). Quando havia incontinência urinária, também usamos moxa no VG4 e eletro acupuntura entre VC1 e VG1 para melhora do trabalho de esfíncteres.

Como já trabalhávamos com a cromoterapia, nos animais muito tensos e que não deixavam aplicar agulhas, já estávamos aplicando a cor azul na cabeça e coluna, com função de tranqüilizar o sistema nervoso, promovendo analgesia e relaxamento da musculatura.

Depois tivemos conhecimento da cromopuntura e adicionamos a estimulação de pontos distais com a cor laranja nos animais mais sensíveis, com resultados satisfatórios, segundo informação dos proprietários.

Nos animais portadores de muita dor, principalmente quando localizada na região cervical, não foi possível colocar a eletro-acupuntura. Já nos cães com quadro de paralisia de membros, está foi colocada de forma descendente, de acordo com a instrução de SHEN XIE (2009), ou seja, o primeiro par de eletrodos era posicionado cranialmente ao local da lesão, onde o Qi e a sensibilidade ainda estavam presentes e os outros foram colocados mais distalmente, até os pontos Baxie (paralisia em membro anterior) ou Bafeng (paralisia em membros posteriores), conforme a região acometida. Às vezes, durante a sessão, o animal que nada sentia na extremidade dos dedos, começava a movimentar e puxar a patinha após receber estes estímulos distais.

CONCLUSÃO

Os resultados obtidos foram todos satisfatórios, pois o uso de cromoterapia facilitou a utilização da acupuntura em animais que estavam apresentando resistência ao tratamento e permitiu o agulhamento de quase todos os pontos pré-selecionados para a terapia.

No caso dos cães que tinham muita sensibilidade em acupontos distais, a cromopuntura com a cor laranja se mostrou eficiente para estimular estes pontos, obtendo resultados satisfatórios, segundo relatos dos proprietários destes animais.

No animal portador de incontinência urinária, o dono também referiu satisfação com o resultado de acupuntura associada ao tratamento de acupuntura.
Esta metodologia tem se mostrado ser de simples aplicação, baixo custo, eficaz principalmente na indução da sedação e analgesia, e sem efeitos colaterais.

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